Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, teve nesta sexta-feira sua primeira aparição pública ao lado da ex-presidenciável do PSB, Marina Silva, como aliado da antiga rival e classificou o episódio como "momento histórico" e o mais importante de sua campanha.
Além de exaltar o apoio de Marina, que teve mais de 22 milhões de votos no primeiro turno, Aécio defendeu a bandeira da sustentabilidade, a mais cara à nova aliada.
"Esse é, para mim, o momento mais importante da nossa caminhada", disse Aécio ao lado de Marina. "Hoje nós estamos nos somando em um movimento, um movimento a favor do Brasil", garantiu.
"Nenhum desenvolvimento será adequado para os cidadãos se ele não vier acompanhado da sustentabilidade. Aí eu tenho absoluta certeza que essa parceria, Marina, vai nos permitir caminhar juntos na direção correta. Com economia de baixo carbono e enfrentando desafios que esse governo colocou de lado", disse.
Tanto o tucano quanto a ex-senadora buscaram ressaltar que a aliança foi programática, baseada em compromissos assumidos por Aécio em Pernambuco por meio de um documento que Marina voltou a comparar com a Carta ao Povo Brasileiro, divulgada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de 2002, quando se elegeu pela primeira vez.
"Há 12 anos o candidato, presidente Lula, apresentou uma carta-compromisso aos brasileiros", lembrou Marina, que por 24 anos foi filiada ao PT e também atuou como ministra do Meio Ambiente de Lula.
"Doze anos depois, você faz o mesmo gesto, diz que vai recuperar o que se perdeu no atual governo, que é a estabilidade econômica e diz que vai manter as políticas sociais que foram ampliadas e aperfeiçoadas durante o governo do presidente Lula."
Aécio exaltou a "generosidade" de Marina por apoiá-lo, repetiu que representa agora não o projeto de um partido, mas o da mudança e elogiou, inclusive, a beleza da nova aliada, que apareceu na entrevista coletiva com o cabelo preso em um rabo de cavalo, em vez do tradicional coque que a acompanhou por toda a campanha.
"Estive gripada esses dias e vocês sabem que uma pessoa gripada não pode prender o cabelo molhado, e por isso fiz assim", explicou Marina diante da surpresa dos jornalistas com sua troca de visual.
"Está muito bonita", avaliou Aécio, sorrindo para a nova aliada.
O tucano, porém, não deixou de criticar sua adversária no segundo turno, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, na conta de quem debitou o tom agressivo do debate realizado entre ambos na véspera.
Em uma declaração que sinaliza o clima dos dois próximos debates entre ambos antes da eleição do dia 26, Aécio disse que responderá à altura os ataques que receber da petista.
MENTIRAS E CALÚNIAS
Um dia depois de travar com Dilma o debate mais agressivo na campanha até aqui, nos estúdios do SBT, Aécio voltou a atacar a presidente por, segundo ele, promover a pior campanha eleitoral dos últimos tempos que, de acordo com o tucano, é recheada de mentiras e calúnias.
Depois de mais uma vez propor à presidente um debate sobre temas em vez da troca de farpas, que marcou o debate da véspera de ambos os lados, Aécio voltou a dizer que Dilma usou a mesma tática contra Marina e contra Eduardo Campos, ex-presidenciável do PSB morto em um acidente aéreo em agosto.
O tucano alertou, no entanto, que responderá à altura ao que chamou de "ataques".
"Só que comigo não. Vamos enfrentar, vou responder sempre no mesmo nível aos ataques que vier a receber", avisou.
"Estejam certos, reagirei a todas as ofensas, às calúnias e às mentiras que transformaram essa eleição, talvez, na pior do ponto de vista ético dos últimos tempos. Não da nossa parte, da parte dos nossos adversários", afirmou.
Questionado, Aécio disse que ainda não discutiu com Marina como será a participação dela na campanha, mas afirmou que a forma que ela tem participado até aqui, como na reunião desta sexta, já o alegrava.
Ele também disse que seria "desrespeitoso" tratar da participação da candidata derrotada em um eventual governo tucano e assegurou que Marina não exigiu nada para apoiá-lo.
Lideranças do PSB presentes ao encontro, como o ex-candidato a vice Beto Albuquerque e o coordenador do programa de Marina Maurício Rands, também negaram que tenha havido qualquer conversa com Aécio ou com lideranças tucanas sobre cargos em um eventual governo.
Eles afirmaram, por outro lado, que com o apoio formal dado a Aécio no segundo turno, o PSB deverá compor a base de sustentação de um governo tucano no Congresso, caso Aécio saia vitorioso das urnas no dia 26.
Ao receber o apoio formal do PSB em reunião da Executiva do partido na semana passada, o presidenciável do PSDB disse que queria contat com a nova sigla aliada não só na campanha, mas também no governo.