Por Emma Farge
GENEBRA (Reuters) - A Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros grupos de ajuda humanitária pediram nesta sexta-feira que as autoridades da Líbia parem de enterrar as vítimas das enchentes em valas comuns, depois que um relatório da ONU mostrou que mais de 1.000 pessoas haviam sido enterradas dessa forma desde que o país foi atingido pelas inundações.
Uma enxurrada arrastou bairros inteiros de Derna, uma cidade no leste da Líbia, na noite de domingo, após o colapso de duas represas. Milhares de pessoas morreram e outras milhares estão desaparecidas.
"Pedimos às autoridades das comunidades afetadas pela tragédia que não se apressem em realizar enterros ou cremações em massa", disse o dr. Kazunobu Kojima, médico responsável pela biossegurança do Programa de Emergências de Saúde da OMS, em uma nota conjunta enviada pela agência de saúde da ONU com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
A declaração pede que os enterros sejam mais bem administrados, em sepulturas individuais bem demarcadas e documentadas, dizendo que enterros precipitados podem causar sofrimento mental duradouro para os membros da família, além de problemas sociais e legais.
Os corpos de vítimas de traumas causados por desastres naturais "quase nunca" representam uma ameaça à saúde, acrescentou, dizendo que a exceção é quando estão dentro ou perto de fontes de água doce, pois os corpos podem vazar fezes.
Um relatório da ONU publicado na quinta-feira informou que mais de 1.000 corpos em Derna e mais de 100 corpos em Albayda foram enterrados em valas comuns após as enchentes de 11 de setembro.
"Os corpos estão espalhados pelas ruas, voltando à costa e enterrados sob prédios desmoronados e escombros. Em apenas duas horas, um dos meus colegas contou mais de 200 corpos na praia perto de Derna", disse Bilal Sablouh, gerente regional de perícia do CICV para a África, em uma reunião em Genebra.
O CICV enviou um voo de carga para Benghazi na sexta-feira com 5.000 sacos para corpos, acrescentou. Ele alertou que munições não detonadas, comuns em algumas partes da Líbia, representam um risco para as pessoas envolvidas na recuperação dos mortos.