Por Emma Farge
GENEBRA (Reuters) - Ambos os lados da guerra civil do Sudão cometeram abusos que podem ser considerados crimes de guerra, incluindo ataques indiscriminados a locais civis como hospitais, mercados e até mesmo acampamentos para deslocados, disse o escritório de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta sexta-feira.
Até agora, os esforços diplomáticos não conseguiram acabar com o conflito de 10 meses que opõe as Forças Armadas do Sudão e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (RSF). Milhares de pessoas foram mortas e cerca de oito milhões foram forçadas a fugir de suas casas, tornando o Sudão o país com a maior população deslocada do mundo.
"Algumas dessas violações equivaleriam a crimes de guerra", disse Volker Turk, o alto comissário da ONU para Direitos Humanos, em uma declaração que acompanha o relatório. "As armas devem ser silenciadas e os civis devem ser protegidos."
Além do relatório, que investiga incidentes até dezembro, o escritório de Turk disse nesta sexta-feira que havia analisado evidências de vídeo "confiáveis", embora não confirmadas, que pareciam mostrar soldados em uniforme do Exército desfilando com as cabeças decapitadas de supostos apoiadores da RSF enquanto entoavam insultos étnicos.
O Exército do Sudão disse que a filmagem é "chocante" e que vai investigar. Um porta-voz de direitos humanos da ONU disse que o escritório de Turk vai acompanhar as autoridades sudanesas no progresso da investigação.
Os EUA já determinaram formalmente que as partes em conflito cometeram crimes de guerra e disseram que a RSF e as milícias aliadas estavam envolvidas em limpeza étnica em Darfur Ocidental. Ambos os lados afirmaram que investigarão os relatos de assassinatos e abusos e processarão os combatentes envolvidos.
O relatório da ONU se baseia em entrevistas com mais de 300 vítimas e testemunhas, bem como em filmagens e imagens de satélite.
O documento afirma que, às vezes, as pessoas que fogem para salvar suas vidas ou que são deslocadas pela violência são vítimas de ataques com armas explosivas.
O relatório também mostra que a RSF adotou uma estratégia militar de uso de escudos humanos, citando testemunhos de vítimas envolvidas.
Até o momento, os investigadores da ONU documentaram casos de violência sexual que afetaram 118 pessoas, incluindo uma mulher que foi detida e repetidamente estuprada por uma gangue durante semanas. Muitos dos estupros foram cometidos por membros da RSF, segundo o relatório.