Nos últimos anos, a volatilidade das taxas de juros globais tem influenciado o retorno dos ativos financeiros. À medida que bancos centrais das principais economias, como o Federal Reserve dos EUA e o Banco Central Europeu, vêm reduzindo suas taxas após mantê-las em um patamar elevado a fim de reduzir o impacto inflacionário da expansão monetária durante a pandemia, o Brasil vem adotando uma política contracionista, devido à incerteza fiscal do governo.
As taxas de juros globais impactam a economia brasileira de diversas formas. Primeiro, elas afetam o fluxo de capital estrangeiro. Tendo em vista que o spread entre as taxas de juros globais frente à taxa brasileira vem aumentando, isso leva a uma maior demanda global pelos títulos da dívida pública brasileira. Esse tipo de investimento é chamado de “carry trade” (tomar dinheiro emprestado a uma taxa baixa e reinvestir em uma taxa maior).
Porém, esse tipo de trade não tem sido tão comum por dois motivos. O recente crash do “yen carry trade” fez com que a disposição para esse tipo de trade diminuísse entre os investidores globais. Em segundo lugar, o fato de o real estar se desvalorizando frente ao dólar traz uma incerteza maior a esse tipo de investimento, pois mesmo que haja spread entre a taxa de juros brasileira e a taxa de juros americana, a desvalorização cambial pode transformar tal spread em uma perda.
Quando a taxa de juros brasileira sobe enquanto a taxa global cai, o cenário para as ações brasileiras não é tão claro. Uma elevação nos juros internos tende a encarecer o crédito e desestimular o consumo e os investimentos domésticos em ativos de risco, o que geralmente pressiona o mercado acionário para baixo, especialmente em setores como construção e consumo.
No entanto, uma queda nas taxas globais, especialmente nos Estados Unidos, pode atrair capital estrangeiro para mercados emergentes em busca de melhores retornos, como o Brasil, se a bolsa brasileira permanecer em um patamar descontado. Esse fluxo de entrada de capital pode, então, valorizar o real e aumentar o interesse por ações de setores exportadores ou com forte apelo internacional, como commodities. Esse cenário cria uma dualidade no mercado: enquanto o aumento de juros locais restringe o crescimento doméstico, a redução das taxas globais pode estimular a entrada de capital e valorizar setores específicos da bolsa brasileira.
Assim, o pequeno investidor deve adotar a estratégia de diversificação, aproveitando as taxas elevadas de títulos públicos como a NTN-B, enquanto também aloca capital em ativos de risco que se estejam desvalorizando, como as ações e os fundos imobiliários.