MADRI (Reuters) - A Venezuela não investigou de forma eficaz nem levou à Justiça os responsáveis pelas 43 mortes durante as manifestações contra o governo do presidente Nicolás Maduro que sacudiram o país no ano passado, disse a Anistia Internacional nesta terça-feira.
Em relatório divulgado em Madri um ano após as manifestações, o grupo de defesa dos direitos humanos afirmou que a falta de resposta das autoridades ante os abusos e torturas cometidos contra centenas de pessoas deixou a porta aberta para mais episódios de violência no país.
"As autoridades venezuelanas não investigaram a maioria das violações de direitos humanos que aconteceram, nem as vítimas tiveram acesso à Justiça, nem a nenhuma reparação", disse Esteban Beltrán, diretor da Anistia Internacional na Espanha, durante entrevista coletiva.
No início de fevereiro de 2014, dezenas de milhares de venezuelanos saíram às ruas em várias cidades do país para protestar contra a alta inflação, a escassez de produtos básicos e a insegurança. Os manifestantes culpavam Maduro, herdeiro político do falecido ex-presidente Hugo Chávez.
As manifestações, muitas delas lideradas por estudantes, levaram em muitos casos a confrontos com as forças de segurança e partidários do governo. Os protestos também deixaram quase 900 feridos.
Segundo a Anistia, 3.351 pessoas foram presas durante os protestos, muitas de forma arbitrária. Embora a maioria tenha sido posteriormente libertada, foram apresentadas acusações contra 1.404 e 25 ainda estão presas à espera de julgamento.
A entidade afirma ter documentado dezenas de casos em que os presos foram submetidos a torturas ou maus-tratos, como golpes, agressões sexuais ou descargas elétricas durante o período em que estiveram sob custódia.
"Na maioria dos casos, os perpetradores estão em liberdade", disse Nuria García, investigadora da Anistia para a Venezuela, durante a entrevista.
Um dos principais líderes da oposição venezuelana, Leopoldo López, se entregou às autoridades e permanece preso há mais de um ano, acusado de instigar a violência. Também seguem presos o prefeito da cidade de San Cristóbal, no oeste do país, Daniel Ceballos, e a ativista Rosmit Mantilla.
(Reportagem de Raquel Castillo Lopez)