Por Anastasia Moloney e Fabio Teixeira
BOGOTÁ/RIO DE JANEIRO (Thomson Reuters Foundation) - Agora que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está desenvolvendo sua estratégia de combate à mudança climática no palco global, as políticas externa e comercial também poderiam ser usadas para enfrentar a questão espinhosa do desmatamento crescente na Amazônia, disseram pesquisadores e ex-autoridades.
Um decreto emitido por Biden em janeiro para tratar da "crise climática profunda" exige que autoridades desenvolvam um "plano para incentivar a proteção da floresta tropical amazônica e outros ecossistemas críticos que servem como sequestros de carbono globais".
Durante sua campanha eleitoral, Biden também acenou com a possibilidade de mobilizar 20 bilhões de dólares para a salvaguarda da Amazônia.
Acadêmicos de 20 universidades brasileiras e norte-americanas, juntamente com grupos ambientalistas, apoiaram um relatório do mês passado sobre como Biden deveria lidar com o Brasil, aconselhando o presidente a limitar as importações de commodities por meio de um decreto.
Eles pediram diretrizes dos EUA para bloquear produtos ligados à destruição da floresta --principalmente carne bovina, soja e madeira-- vindos do Brasil, que abriga aproximadamente 60% da Amazônia e onde o desmatamento está aumentando.
"Os Estados Unidos têm uma responsabilidade e contribuem indiretamente com o desmatamento no Brasil", disse Mariana Mota, coordenadora de políticas públicas do Greenpeace Brasil.
A proteção das florestas tropicais é considerada um anteparo vital contra o aquecimento global por causa das quantidades imensas de dióxido de carbono --que aquece o planeta-- que elas absorvem.
Mas a devastação amazônica para a agricultura, a mineração e outras atividades comerciais está erodindo sua capacidade de atuar como sequestro de carbono, alertam cientistas.
O desmatamento da Amazônia brasileira atingiu uma alta de 12 anos em 2020, de acordo com dados do governo publicados em novembro.
Atrelar condições que ajudariam a preservar a Amazônia a questões de política externa de interesse do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, também poderia funcionar, disseram especialistas.
Nos últimos anos, impulsionados pelo financiamento da Noruega, países como Brasil, Colômbia e Peru pagaram centenas de milhões de dólares por emissões que seriam evitadas com a repressão do desmate ilegal na Amazônia.
Mas Carlos Rittl, ex-secretário-executivo do Observatório do Clima, questionou a eficácia de incentivos econômicos para o Brasil, dizendo que "não é a falta de dinheiro que impede o governo Bolsonaro de proteger a Amazônia".