Por Nidal al-Mughrabi e Allyn Fisher-Ilan
GAZA/JERUSALÉM, 24 Jul (Reuters) - Autoridades da Faixa de Gaza disseram que forças israelenses bombardearam nesta quinta-feira uma escola administrada pela ONU que servia de abrigo, matando pelo menos 15 pessoas, enquanto o número total de palestinos mortos no conflito ultrapassou 760 e tentativas de uma trégua permaneciam uma incógnita.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, se disse horrorizado com o ataque contra a escola em Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza. "Muitos têm sido mortos, incluindo mulheres e crianças, assim como funcionários da ONU", disse ele em comunicado. "As circunstâncias ainda não estão claras. Eu condeno fortemente este ato."
Mais tarde, Ban chegou ao Egito onde deverá se reunir com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que tem trabalhado para se chegar a uma trégua.
O porta-voz de Kerry disse que o ataque contra a escola "destaca a necessidade de acabar com a violência".
Mas não havia nenhum sinal de progresso na obtenção de um cessar-fogo após quatro dias da presença dele na região. "Persistem as diferenças entre as partes", disse um oficial sênior dos EUA, acrescentando que Kerry não permanecerá "por um período de tempo indefinido".
O Exército de Israel disse que está investigando o incidente.
O tenente-coronel Peter Lerner, das Forças de Defesa de Israel, disse que havia uma possibilidade de a escola ter sido atingida por foguetes desgovernados do Hamas. "Pode ser fogo errante das Forças de Defesa de Israel, ou foguetes lançados por terroristas de Gaza, mas ainda não sabemos, ainda há um ponto de interrogação", disse ele à Reuters TV.
Um porta-voz da agência de assistência da ONU disse que tentou, em vão, organizar uma retirada de civis da escola com o Exército de Israel e observou relatos da queda de foguetes do Hamas na área ao mesmo tempo.
Um fotógrafo da Reuters no local disse que poças de sangue podiam ser vistas no chão e nas mesas dos estudantes no pátio da escola, perto do aparente impacto de um projétil de artilharia.
Diversas famílias que viviam na escola correram com seus filhos para o hospital onde as vítimas estavam sendo atendidas, a algumas centenas de metros.
Laila Al-Shinbari, mulher que estava na escola no momento do bombardeiro, disse à Reuters que as famílias haviam se reunido no pátio para esperar um comboio da Cruz Vermelha para retirá-las de lá.
"Todos nós nos sentamos em um lugar quando de repente quatro projéteis acertaram nossas cabeças… corpos estavam no chão, (havia) sangue e gritos. Meu filho está morto e todos os meus parentes foram mortos, incluindo meus outros filhos", disse ela em prantos.
O porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, Ashraf al-Qidra, disse que além dos 15 mortos, 200 pessoas foram feridas no ataque. O diretor de um hospital local disse que vários centros médicos em Beit Hanoun estavam recebendo os feridos.
PREÇO INIMAGINÁVEL
Mais de 140 mil palestinos fugiram durante os 17 dias de combates entre Israel e os militantes em Gaza, muitos deles buscando refúgio em prédios administrados pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina. Forças israelenses tentam conter militantes do Hamas e seus aliados de disparar foguetes contra o seu território.
"Está claro que os civis estão pagando um preço inimaginável nos dois lados", disse o porta-voz da agência, Chris Gunness. "Estávamos tentando organizar uma janela para a retirada dos civis com o Exército de Israel que nunca aconteceu. As consequências foram profundamente trágicas."
A Grã-Bretanha pediu aos governantes de Gaza para aceitar uma trégua incondicionalmente. "O Hamas deve concordar com um cessar-fogo humanitário, sem pré-condições", disse o secretário de Relações Exteriores, Philip Hammond, em entrevista coletiva no Cairo. O Egito tenta mediar a trégua.
"Depois... a Autoridade Palestina e Israel têm de se reunir para discussões que assegurem uma paz duradoura e sustentável em Gaza para que não repita esse ciclo de violência."
O líder do Hamas, Khaled Meshaal, afirmou na quarta-feira que seus combatentes tinham feito ganhos contra Israel e expressou apoio a uma trégua humanitária, mas somente se Israel aliviar as restrições sobre 1,8 milhão de pessoas de Gaza. Hamas também quer que o Egito abra sua fronteira com Gaza.
O número de palestinos mortos em Gaza chegou a 762 nesta quinta-feira, disseram autoridades. Israel perdeu pelo menos 32 soldados em confrontos no interior de Gaza e com militantes do Hamas que se infiltraram sob a fronteira fortificada em túneis clandestinos.
Foguetes palestinos e morteiros também mataram três civis em Israel. Tais ataques se intensificaram no mês passado quando Israel reprimiu o Hamas na Cisjordânia ocupada, provocando a ofensiva por mar e ar contra a Faixa de Gaza iniciada em 8 de julho, o que levou à invasão por terra na semana passada.
(Reportagem adicional de Noah Browning, em Gaza; de Michelle Nichols, nas Nações Unidas; de Arshad Mohammed, Yasmine Saleh e Shadia Nasralla, no Cairo; de Amena Bakr, em Doha; de Stephanie Nebehay, em Genebra; e de Thomas Seythal, em Berlim)