Por Nita Bhalla
NOVA DÉLHI (Thomson Reuters Foundation) - A ascensão da extrema-direita em todo o mundo pode abater a já escassa ajuda externa, aumentar as tensões entre comunidades e países, e levar mais pessoas a fugirem de conflitos, advertiram prêmios Nobel, líderes e especialistas.
Partidos populistas e políticos em toda a Europa e nos Estados Unidos estão ganhando popularidade em meio a uma crise de imigrantes e o lento crescimento econômico global.
Especialistas dizem que isso não só está alimentando a xenofobia e crimes de ódio contra minorias, e que poderia levar a mais violência e mais imigrantes e refugiados procurando abrigo no Ocidente.
"Eu estou certamente muito preocupado. Acho que o sentimento anti-imigrante vai crescer. É uma política muito potente e é muito perigosa", disse à Thomson Reuters Foundation Jeffrey Sachs, diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia.
O economista falou no início do mês, durante uma conferência de direitos da criança na Índia, que contou com a presença de uma série de figuras internacionais.
Depois da campanha do referendo britânico dominada pelas visões anti-imigração e eurocéptica do Partido da Independência do político Nigel Farage, o Reino Unido votou em junho para deixar a União Europeia.
O resultado deu um impulso a outros políticos populistas de extrema-direita, como a líder Marine Le Pen da Frente Nacional, na França, que deve ter um bom desempenho na eleição presidencial francesa do próximo ano com uma plataforma eurocéptica.
Mas o que alarmou mais a maioria dos liberais foi a eleição no mês passado de Donald Trump como o próximo presidente dos Estados Unidos. O empresário bilionário defendeu a proibição de muçulmanos, a construção de um muro ao longo da fronteira EUA-México e aumento da militarização.
José Ramos-Horta, laureado com o Nobel da Paz e ex-presidente do Timor Leste, disse que a onda de populismo é baseada em mentiras xenófobas alimentadas por políticos e grupos de mídia de extrema-direita.
"Esses idiotas como Farage, Marine Le Pen oferecem soluções simplistas para problemas profundos na Europa, que não têm nada a ver com os imigrantes e refugiados", disse Ramos-Horta à margem da conferência Delhi.
"Eles estão ignorando os problemas econômicos estruturais que existem há muito no Ocidente, que têm relação com o envelhecimento da população."
Ramos-Horta disse que a mudança para a extrema-direita provavelmente significa que os países vão adotar políticas mais protecionistas, que podem resultar em cortes na ajuda estrangeira.
Apesar de os países ricos terem prometido 0,7 por cento do seu Produto Interno Bruto (PIB) em ajuda externa até 2015, apenas alguns efetivamente cumpriram a meta.
No ano passado, 35 nações mais ricas do mundo deram apenas 0,3 por cento do seu PIB em 2015, disse a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A ex-primeira-ministra australiana Julia Gillard advertiu contra o corte de ajuda, dizendo que deveria ser substancialmente aumentada, já que pode no final das contas ajudar a conter as emergências humanitárias como a crise de imigrantes na Europa.
"As pessoas vão se mudar caso não haja oportunidades e esperanças onde vivem, e uma forma essencial de dar às pessoas esperança é investir e educar os seus filhos", disse Gillard, presidente da Parceria Global para a Educação.
Com muitos partidos de extrema-direita defendendo soluções militares sobre a diplomacia, os especialistas temem mais conflitos no mundo.