Por Will Dunham
WASHINGTON (Reuters) - Astrônomos detectaram uma intensa explosão de ondas de rádio proveniente do que parece ser uma fusão de galáxias datada de cerca de 8 bilhões de anos atrás, no mais antigo exemplo já registrado de um fenômeno conhecido como "fast radio burst", ou rajada rápida de rádio.
A explosão, de menos de um milissegundo, liberou a quantidade de energia que o nosso Sol emite em três décadas, disseram os pesquisadores, e foi detectada pelo SKA Pathfinder australiano, um radiotelescópio no Estado da Austrália Ocidental. A localização da rajada foi apontada pelo Very Large Telescope, do Observatório Europeu do Sul, no Chile, um dos mais poderosos telescópios ópticos do mundo.
Uma rajada rápida de rádio, ou FRB, é um pulso de radiação eletromagnética de radiofrequência.
"As ondas de rádio nas FRBs são semelhantes às usadas em fornos de micro-ondas. A quantidade de energia nessa FRB é equivalente a colocar no micro-ondas uma tigela de pipoca com o dobro do tamanho do Sol", disse o astrônomo Ryan Shannon, da Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália, co-líder do estudo publicado esta semana na revista Science.
Até agora, a explosão deste tipo mais antiga conhecida datava de 5 bilhões de anos atrás, o que torna essa explosão 3 bilhões de anos mais antiga. O universo tem cerca de 13,8 bilhões de anos. Para efeito de comparação, a Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos.
Ao estudar objetos e eventos de muito tempo atrás, os astrônomos observam através de vastas distâncias cósmicas, o que torna essa explosão também a mais distante de qualquer FRB já detectada.
"Agora sabemos que as rajadas rápidas de rádio existem há mais da metade da idade do universo", disse o astrônomo e co-líder do estudo Stuart Ryder, da Universidade Macquarie, na Austrália.
As rajadas rápidas de rádio foram descobertas em 2007.
"A fonte mais provável é uma estrela de nêutrons hiper-magnetizada, chamada de magnetar. Essas estrelas são cadáveres estelares com a massa do Sol, mas com o tamanho de uma pequena cidade. Elas são alguns dos objetos mais extremos do universo, o que seria necessário para produzir explosões tão extremas", disse Shannon.
"Há eventos mais energéticos no universo, associados a explosões estelares ou a um buraco negro que despedaça uma estrela. Mas as FRBs são únicas pelo fato de produzirem toda a sua energia em ondas de rádio, sem nada visto em outras faixas - luz óptica ou raios X, por exemplo - e pelo fato de os sinais serem tão curtos", acrescentou Shannon.
Elas também são mais comuns, segundo Shannon, e acredita-se que mais de 100.000 ocorram diariamente em algum lugar do universo. Porém, muito menos foram detectadas, disse Shannon, e apenas cerca de 50 -- incluindo esta -- foram rastreadas até a galáxia onde se originaram.
"As galáxias no universo distante têm aparência diferente das próximas -- elas não têm braços espirais bonitos -- portanto, não estava claro se o que estávamos vendo era uma galáxia com alguns aglomerados ou algumas galáxias menores. É provável que a fonte seja algumas galáxias, possivelmente em fusão", disse Shannon.
Os pesquisadores disseram que o estudo dessas explosões também pode ajudar a detectar e medir a imensa quantidade de matéria que se acredita povoar as extensões de espaço entre as galáxias.
(Reportagem Will Dunham)