Por Nidal al-Mughrabi
(Reuters) - Cidadãos de Austrália, Reino Unido e Polônia estão entre os sete trabalhadores da World Central Kitchen (WCK), a ONG do famoso chef de cozinha José Andrés, que foram mortos em um ataque aéreo de Israel no centro de Gaza na segunda-feira, informou a organização.
Os trabalhadores, que também incluíam palestinos e um cidadão com dupla nacionalidade dos Estados Unidos e do Canadá, estavam viajando em dois carros blindados com o logotipo da ONG e em outro veículo, disse a instituição em um comunicado.
Há muito tempo Israel nega que esteja impedindo a distribuição da ajuda alimentar urgentemente necessária em Gaza, dizendo que o problema é causado pela incapacidade dos grupos de ajuda internacional de levá-la aos necessitados.
Apesar de coordenar os movimentos com a Força de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), o comboio foi atingido quando saía de seu depósito em Deir al-Balah, após descarregar mais de 100 toneladas de ajuda alimentar humanitária trazida para Gaza por via marítima, disse a ONG.
"Não se trata apenas de um ataque contra a WCK, mas de um ataque às organizações humanitárias que aparecem nas situações mais terríveis em que os alimentos estão sendo usados como arma de guerra", disse Erin Gore, diretora executiva da World Central Kitchen.
"Isso é imperdoável."
As Forças Armadas israelenses afirmaram que estão fazendo uma revisão completa nos níveis mais altos para entender as circunstâncias do que chamaram de incidente trágico e prometeram uma investigação por "um órgão independente, profissional e especializado".
"A IDF faz grandes esforços para permitir a entrega segura de ajuda humanitária e tem trabalhado em estreita colaboração com a WCK em seus esforços vitais para fornecer alimentos e ajuda humanitária ao povo de Gaza", disseram os militares.
Israel tem estado sob crescente pressão internacional para aliviar a fome severa no enclave, que tem sido devastado por meses de combates que forçaram a maioria da população a deixar suas casas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) e outros grupos internacionais têm acusado Israel de dificultar a distribuição de ajuda com obstáculos burocráticos e de não garantir a segurança dos comboios de alimentos, o que foi enfatizado por um desastre em 29 de fevereiro, no qual cerca de 100 pessoas foram mortas enquanto esperavam pela entrega de ajuda.
O grupo palestino Hamas diz que o principal problema com a distribuição de ajuda são os ataques israelenses a trabalhadores humanitários. Após o mais recente incidente, o grupo emitiu uma declaração dizendo que o ataque tinha como objetivo aterrorizar os trabalhadores de agências humanitárias internacionais, impedindo-os de cumprir suas missões.
Na semana passada, a Corte Mundial ordenou que Israel tome todas as medidas necessárias e eficazes para garantir o fornecimento de alimentos básicos à população palestina do enclave e impedir a propagação da fome.
Em resposta, as autoridades israelenses acusaram a ONU e outros órgãos internacionais de "fracasso" em relação aos problemas para levar ajuda às pessoas famintas em Gaza, dizendo que eles não têm capacidade logística para realizar suas tarefas.
Andrés, que fundou a ONG em 2010 ao enviar cozinheiros e alimentos para o Haiti após um terremoto, disse que estava com o coração partido e de luto pelas famílias e amigos dos que morreram.
"O governo israelense precisa parar com essa matança indiscriminada", disse ele nas redes sociais.
"Precisa parar de restringir a ajuda humanitária, parar de matar civis e trabalhadores humanitários e parar de usar alimentos como arma. Chega de vidas inocentes perdidas. A paz começa com nossa humanidade compartilhada. Ela precisa começar agora."