Por Carolina Pulice
(Reuters) - Keila Simpson, ativista brasileira pelos direitos das pessoas transgênero e que se identificam como travestis, disse que foi detida e não conseguiu entrar no Aeroporto Internacional da Cidade do México, no domingo passado, porque as autoridades se opuseram à diferença entre sua aparência e seu nome no passaporte.
A ativista de 57 anos, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, participaria do Fórum Social Mundial de 2022 --reunião de ativistas de setores como LGBTQ, indígenas e ambientalistas-- na capital mexicana. Mas Simpson disse que foi detida após mostrar um passaporte com seu nome de registro, que teria sido classificado pelos funcionários do aeroporto como uma “incongruência” com sua aparência.
No Brasil, uma pessoa pode mudar seu nome social sem precisar mudar de sexo, segundo uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2018. Mas a escolha de fazê-lo depende do indivíduo. Simpson, que se identifica como travesti e não transgênero, não mudou o dela.
Simpson disse à Reuters que foi detida por 10 horas e não recebeu acesso ao seu advogado.
A agência de imigração do México disse em comunicado que Simpson não apresentou as informações exigidas ao chegar, como onde ficaria, de quais atividades participaria e detalhes da passagem de volta.
“A autoridade de imigração agiu com base na lei e no respeito irrestrito aos direitos humanos de imigrantes, independentemente de etnia ou origem nacional, sexo, idade, religião ou identidade de gênero”, acrescentou.
Mas o advogado de Simpson, Gustavo Coutinho, disse que ela tinha todos os documentos exigidos e que outros membros da delegação puderam entrar no país com os mesmos documentos.
A Secretaria das Relações Exteriores do México disse que não comentaria.
“Meus documentos têm meu nome de registro, e a minha identidade é essa (travesti). A foto no meu passaporte é muito atual e ele esta válido até 2028”, acrescentou Simpson, que mora em Salvador.
O termo travesti se refere a uma pessoa cuja identidade de gênero não se encaixa nas duas mais comumente usadas, homem e mulher, e é diferente de uma pessoa transgênero, que pode estar passando por um processo de transição.
“A única coisa que tenho que me identifica como travesti é meu documento de identidade”, disse. “Se eu mudá-lo, eu me anularia como travesti”.
Brasil e México são os dois países onde mais morrem pessoas transgênero no mundo, segundo uma pesquisa conduzida pela Transgender Europe (TGEU), uma rede de entidades sem fins lucrativos que defende os direitos trans globalmente.
Apesar dos esforços de alguns políticos trans de mudar as regras e enfrentar o preconceito, a América Latina continua sendo uma das piores regiões para as pessoas trans no mundo.
(Reportagem adicional de Lizbeth Diaz)