Por Andrew Gray e Jan Strupczewski
BRUXELAS (Reuters) - Uma autoridade de alto escalão da União Europeia repreendeu o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, nesta terça-feira, depois que ele lançou uma autodenominada "missão de paz" para Ucrânia, que incluiu conversas com Donald Trump e os líderes da Rússia e da China sem o apoio da UE.
Orbán disse aos líderes do bloco de 27 nações em uma carta que Trump, candidato presidencial republicano dos Estados Unidos, está pronto para agir "imediatamente" como um mediador de paz na guerra Rússia-Ucrânia se for eleito em novembro.
Muitas autoridades europeias temem que Trump possa cortar o apoio dos EUA a Kiev e empurrar a Ucrânia para negociações de paz que dariam a Moscou uma fatia substancial da Ucrânia e encorajariam o presidente russo, Vladimir Putin, a buscar novas aventuras militares.
A Hungria - que mantém laços estreitos com a Rússia desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022 - assumiu a presidência rotativa de seis meses da UE no início deste mês.
Mas em uma resposta à carta de Orbán, Charles Michel, presidente do Conselho Europeu dos líderes nacionais da UE, disse ao primeiro-ministro húngaro que ele não tinha mandato da UE para conversas sobre a guerra.
"A presidência rotativa do Conselho não tem o papel de representar a União no cenário internacional e não recebeu nenhum mandato do Conselho Europeu para se engajar em nome da União", disse Michel a Orbán em uma carta vista pela Reuters.
Michel, ex-primeiro-ministro belga, também rejeitou a afirmação de Orbán de que a UE havia adotado uma política "pró-guerra" na Ucrânia.
"É exatamente o oposto", escreveu Michel. "A Rússia é o agressor e a Ucrânia é a vítima que está exercendo seu direito legítimo de autodefesa."
O líder nacionalista Orbán, um apoiador de longa data de Trump, viajou a Kiev e em seguida fez visitas surpresa a Moscou e Pequim antes de participar de uma cúpula da Otan em Washington na semana passada e manter conversações com Trump na Flórida.
Em sua carta, Orbán disse que Trump, no caso de sua vitória nas eleições norte-americanas em novembro, não esperaria até sua posse, mas estaria "pronto para agir como um mediador de paz imediatamente. Ele tem planos detalhados e bem fundamentados para isso".
As ações de Orbán provocaram fúria de muitos governos e autoridades da UE.
Na segunda-feira, a Comissão Europeia tomou a medida sem precedentes de impedir que os comissários da UE participassem de reuniões realizadas na Hungria durante a presidência do país na UE.
Alguns governos da UE também planejam enviar apenas autoridades públicas de alto escalão, em vez de ministros do governo, para reuniões ministeriais na Hungria, e 63 parlamentares do Parlamento Europeu pediram à UE que suspendesse os direitos de voto de Budapeste no bloco.
Em sua carta, Orbán também disse que o presidente dos EUA, Joe Biden, "não é capaz de modificar a atual política pró-guerra dos EUA".
(Reportagem da Reuters)