Por Marc Frank
HAVANA (Reuters) - Os babalaôs da religião afro-cubana Santería alertaram nesta semana para um ano difícil pela frente e pediram aos seguidores que tenham precaução contra calamidades e problemas sociais crescentes após um ano difícil em 2022, em que um número recorde de cubanos deixou a ilha de governo comunista.
"Não adie os trabalhos religiosos e consagrações pendentes", aconselharam os babalaôs da Associação Cultural Iorubá de Cuba, em sua Carta do Ano, publicada no domingo.
Roberto Padron Silva, presidente da associação, disse em coletiva de imprensa que a carta não deve ser mal interpretada, porque vários sinais para este ano revelaram que, com esperança e muito trabalho, “este pode ser um ano melhor”.
Milhões de cubanos praticam a religião repleta de rituais, que funde o catolicismo com antigas crenças trazidas para Cuba pelos africanos escravizados, ao estilo do Candomblé no Brasil.
Os babalaôs alertaram para o aumento de doenças infecciosas e relacionadas ao estresse, aumento do alcoolismo e da criminalidade.
“Estão previstos desastres naturais devido a furacões, turbulências no mar e inundações de rios com perdas econômicas e humanas”, disse a carta.
O ano passado foi particularmente difícil para a maioria dos cubanos, que vivem sob sanções abrangentes dos EUA e que já sofreram como resultado de dois anos de lockdowns pandêmicos, inflação crescente e escassez de alimentos, remédios e outros produtos.
Um número recorde de cubanos saiu da ilha, com cerca de 250.000 deles entrando nos Estados Unidos, de acordo com estatísticas do governo dos EUA -- a maioria atravessando a fronteira mexicana.
A Carta do Ano expressa a “necessidade de uma mudança de mentalidade que facilite o desenvolvimento” na economia dominada pelo Estado e de “promover legalmente as possibilidades econômicas internas na produção agroindustrial”.
A carta também expressou preocupação com o envelhecimento da população devido à diminuição “da natalidade” e ao “êxodo” juvenil.
Ao longo dos anos, alguns grupos se separaram da associação e alguns agora emitem suas próprias cartas.
O babalaô Víctor Betancourt, da Comissão Organizadora Independente da Carta do Ano Miguel Febles Padron, disse à Reuters em outra entrevista, a alguns quilômetros de distância, que sua carta era muito mais otimista.
“Os sinais indicam que o melhor ano para Cuba desde 1959 (a Revolução de Fidel Castro) é 2023”, disse ele. "Tenho muita esperança de que Cuba e os Estados Unidos cheguem a um acordo."
(Reportagem adicional da Reuters TV)