Por Julie Steenhuysen
CHICAGO (Reuters) - Infectar mosquitos com uma cepa de bactéria conhecida como Wolbachia reduziu significativamente a capacidade de transmissão do Zika vírus pelos mosquitos, afirmaram pesquisadores brasileiros nesta quarta-feira, aumentando a esperança de que este método biológico bloqueie a transmissão do vírus.
A bactéria foi lançada em vários países, incluindo Austrália, Brasil, Indonésia e Vietnã, como parte de estratégias de controle da dengue, e a nova descoberta mostra que o método também funciona com o Zika, transmitido pelo mesmo mosquito da dengue, o Aedes aegypti.
O Zika vírus tem sido associado a casos de microcefalia, uma má-formação cerebral. Em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde declarou o Zika uma emergência de saúde global. A ligação entre Zika e microcefalia veio à tona no ano passado no Brasil, que nesta quarta confirmou 1.271 casos de microcefalia - o Ministério da Saúde considera que a maioria está relacionada com infecções de Zika nas mães.
O novo estudo, realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e publicado na Cell Host & Microbe, aproveita a cepa natural de bactéria conhecida como Wolbachia, que vive em células de insetos e é encontrada em 60 por cento dos insetos comuns. O método envolve a inserção da bactéria em ovos do mosquito, que então passam a bactéria para seus descendentes.
"A ideia é liberar mosquitos Aedes com Wolbachia por um período de alguns meses, e então eles se acasalam com os mosquitos Aedes ... e ao longo do tempo substituem a população de mosquitos", disse o coordenador do estudo, Luciano Moreira, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.
No estudo, a equipe infectou mosquitos de campo e outros que receberam a bacteria Wolbachia com duas cepas do Zika virus que circulam atualmente no Brasil. Após duas semanas, os mosquitos que transportavam Wolbachia tinham menos partículas do vírus nos seus corpos e saliva - tornando-se menos capazes de infectar os seres humanos com o vírus.
"A Wolbachia mostrou-se tão eficaz com o Zika quanto nas mais importantes experiências de dengue que fizemos", afirmou Moreira.
Ele advertiu, contudo, que a estratégia não é 100 por cento eficaz e não vai eliminar o vírus, acrescentando que deve ser usada como parte de uma estratégia de controle integrado.