Por Daphne Psaledakis e Steven Scheer
LONDRES/JERUSALÉM (Reuters) - O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, exigiu nesta terça-feira uma revisão da conduta militar israelense na Cisjordânia ocupada ao lamentar a morte de uma norte-americana que protestava contra a expansão dos assentamentos, que teria sido acidental, segundo Israel.
Aysenur Ezgi Eygi, de 26 anos, que também tem nacionalidade turca, foi morta a tiros na última sexta-feira em uma marcha de protesto em Beita, vilarejo próximo a Nablus, onde palestinos têm sido repetidamente atacados por colonos judeus de extrema-direita.
As Forças Armadas de Israel disseram nesta terça-feira que inquérito inicial concluiu como altamente provável que suas tropas tivessem disparado o tiro que a matou, mas sua morte não foi intencional, e expressaram profundo pesar.
Em seus comentários mais fortes até o momento, criticando as forças de segurança do aliado mais próximo de Washington no Oriente Médio, Blinken descreveu a morte de Eygi como "não provocada e injustificada". Ele disse que Washington insistirá com o governo israelense para que faça mudanças na forma como suas forças operam na Cisjordânia.
"Ninguém deveria ser baleado e morto por participar de um protesto. Ninguém deveria ter que colocar sua vida em risco apenas por expressar livremente suas opiniões", disse a jornalistas em Londres.
"Em nossa opinião, as forças de segurança israelenses precisam fazer algumas mudanças fundamentais na forma como operam na Cisjordânia, incluindo mudanças em suas regras de engajamento."
"Agora temos o segundo cidadão americano morto pelas mãos das forças de segurança israelenses. Isso não é aceitável", disse ele.
Um porta-voz do governo israelense não comentou as observações de Blinken.
As Forças Armadas de Israel disseram que uma investigação da Divisão de Investigação Criminal da Polícia Militar estava em andamento e que suas conclusões seriam submetidas a uma análise de nível superior após a conclusão.
"Estaremos observando isso muito, muito de perto", disse a jornalistas o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirmando que uma investigação criminal era uma medida incomum das Forças Armadas de Israel.
"Vamos querer ver o que acontece agora em termos de investigação criminal e o que eles descobrem, e se e como alguém é responsabilizado", acrescentou Kirby.
A família de Eygi chamou o inquérito preliminar de "completamente inadequado" e instou o presidente dos EUA, Joe Biden, que exigisse uma investigação independente.
INQUÉRITO PRELIMINAR
Em um comunicado, o Exército israelense disse que seus comandantes conduziram uma investigação inicial sobre o incidente e descobriram que o tiroteio não foi direcionado a ela, mas a outro indivíduo considerado "o principal instigador do tumulto".
"O incidente ocorreu durante um violento tumulto no qual dezenas de suspeitos palestinos queimaram pneus e atiraram pedras contra as forças de segurança no entroncamento de Beita", disse.
Israel enviou um pedido às autoridades palestinas para realizar uma autópsia, disse.
"Estamos profundamente ofendidos com a sugestão de que sua morte por um atirador treinado não tenha sido intencional", disse a família de Eygi em um comunicado.
O aumento dos ataques violentos de colonos contra palestinos na Cisjordânia despertou a ira de aliados ocidentais de Israel, incluindo os Estados Unidos, que impuseram sanções a alguns israelenses envolvidos no movimento de colonos linha-dura. As tensões aumentaram em meio à guerra de Israel contra os militantes do Hamas em Gaza.
Palestinos têm realizado protestos semanais em Beita desde 2020 por causa da expansão de Evyatar, um posto avançado de colonos nas proximidades. Membros ultranacionalistas da coalizão governista de Israel agiram para legalizar postos avançados anteriormente não autorizados, como Evyatar, medida que, segundo Washington, ameaça a estabilidade da Cisjordânia e prejudica os esforços de uma solução de dois Estados para o conflito.
Desde a guerra de 1967 no Oriente Médio, Israel ocupa a Cisjordânia, área que os palestinos querem que seja o núcleo de um futuro Estado independente.
Israelenses construíram um conjunto cada vez maior de assentamentos que a maioria dos países considera ilegais. Israel contesta a afirmação, citando laços históricos e bíblicos com o território.
(Reportagem de Steven Scheer e Daphne Psaledakis, Reportagem adicional de Maayan Lubell, Simon Lewis, Matt Spetalnick, Trevor Hunnicutt e Katharine Jackson)