Por Ranga Sirilal e Shihar Aneez
COLOMBO (Reuters) - Explosões de bombas neste domingo de Páscoa em três igrejas e quatro hotéis no Sri Lanka mataram mais de 200 pessoas e deixaram ao menos 450 feridos, disseram autoridades policiais, no primeiro grande ataque à ilha no Oceano Índico desde o final de uma guerra civil há dez anos atrás.
Sete pessoas foram presas e três policiais morreram durante uma ação de forças de segurança contra uma casa na capital do país horas depois da onda de ataques, que algumas autoridades dizem que foram conduzidos por suicidas com bombas.
O governo declarou um toque de recolher na capital Colombo e bloqueou o acesso a mídias sociais e sites de mensagens, incluindo Facebook e WhatsApp. Não ficou claro quando o toque de recolher será encerrado.
"No total, nós temos informações sobre 207 mortos em todos os hospitais. Segundo as informações até agora, nós temos 450 pessoas feridas que deram entrada nos hospitais", disse a jornalistas o porta-voz da polícia Ruwan Gunasekera. Entre os mortos, ao menos 28 eram estrangeiros.
Não houve anúncios imediatos sobre a responsabilidade pelos ataques, realizados em um país que passou décadas em guerra com os separatistas Tamil, até 2009, um período em que ataques à bomba na capital eram comuns.
Grupos cristãos locais disseram que têm enfrentado crescente intimidação de alguns monges budistas nos últimos anos. No ano passado, houve confrontos entre a comunidade budista cingalesa, majoritária, e uma corrente minoritária de muçulmanos, com alguns grupos budistas linha-dura acusando os muçulmanos de forçar as pessoas a se converterem ao islamismo.
Dezenas de pessoas foram mortas em uma das explosões, na igreja católica em estilo gótico de St. Sebastian, em Katuwapitiya, ao norte de Colombo. Gunasekera disse que a polícia suspeita de um ataque suicida lá. Fotos do local mostravam corpos no chão, sangue nos bancos da igreja e um telhado destruído.
A mídia local relatou que 25 pessoas também foram mortas em um ataque a uma igreja evangélica em Batticaloa, na Província Oriental.
CENAS DE HORROR
Os hotéis atingidos em Colombo foram o Shangri-La, o Kingsbury, o Cinnamon Grand e o Tropical Inn, perto do zoológico nacional. Não houve notícias sobre vítimas nos hotéis, mas uma testemunha disse à TV local que ele viu partes de corpos, incluindo uma cabeça decepada, no chão ao lado do Tropical Inn.
As primeiras seis explosões foram todas relatadas em um curto período da manhã, exatamente quando as igrejas estavam começando suas celebrações de Páscoa.
Corpos de 27 estrangeiros foram registrados em hospitais, disseram autoridades. Entre eles estava um cidadão holandês, disse o ministro das Relações Exteriores do país.
Houve ainda uma oitava explosão em uma casa em Colombo. A polícia e a mídia disseram que três policiais foram mortos e sete pessoas foram detidas durante uma operação nesse local.
O primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe convocou uma reunião do conselho de segurança nacional em sua casa para o final do dia.
"Eu condeno veementemente os ataques covardes contra nosso povo hoje. Eu convoco todos os cingaleses para que durante este momento trágico permaneçam unidos e fortes", disse ele no Twitter.
"Por favor, evite a propagação de reportagens não verificadas e especulações. O governo está tomando medidas imediatas para conter esta situação", acrescentou ele.
O presidente Maithripala Sirisena disse que ordenou que uma força-tarefa especial da polícia e as forças armadas investiguem quem está por trás dos ataques e seus objetivos.
Os militares foram destacados, disse um porta-voz militar, e a segurança ampliada no aeroporto internacional de Colombo.
ATAQUES SOBRE OS CRISTÃOS
Uma das explosões foi no Santuário de Santo Antônio, uma igreja católica em Kochcikade, Colombo, um marco turístico.
No ano passado, houve 86 incidentes verificados de discriminação, ameaças e violência contra cristãos, segundo a Aliança Evangélica Cristã Nacional do Sri Lanka (NCEASL), que representa mais de 200 igrejas e outras organizações cristãs.
Este ano, o NCEASL registrou 26 desses incidentes, incluindo um em que monges budistas supostamente tentaram interromper um culto de domingo. O último incidente foi relatado em 25 de março.
De uma população total de 22 milhões no Sri Lanka, 70 por cento são budistas, 12,6 por cento hindus, 9,7 por cento muçulmanos e 7,6 por cento cristãos, de acordo com o censo de 2012 do país.
Em seu relatório de 2018 sobre os direitos humanos do Sri Lanka, o Departamento de Estado dos EUA observou que alguns grupos cristãos e igrejas relataram ter sido pressionados a encerrar alguns cultos depois que as autoridades classificaram-nas como "reuniões não autorizadas".
O relatório também disse que os monges budistas tentam regularmente fechar os locais de culto de cristãos e muçulmanos, citando fontes não identificadas.
((Tradução Redação São Paulo, 55 11 5644 7519)) REUTERS LC