Por Gabriel Stargardter
JEREMIE, Haiti (Reuters) - Caminhões carregados de ajuda estão lentamente cruzando cidades remotas atingidas pelo furacão no Haiti, mas a frustração de sobreviventes como Dmitry Pierre está transbordando em irritação profunda e mesmo violência à medida que eles observam os veículos passarem, mas não pararem.
Pessoas desesperadas que perderam as suas casas e estão vivendo em escombros ou em abrigos lotados bloquearam as ruas nesta terça-feira para obrigar que os comboios parem e lhes deem atenção.
Alguns até jogaram pedras nos caminhões de ajuda, furiosos por estarem sendo ignorados, numa aparente falta de coordenação na distribuição de alimentos e água.
"Eles nos humilharam, eles nos consideram animais. Nós não sabemos onde estamos indo ou o que será no futuro. Tudo está destruído”, afirmou Pierre, morando numa escola que é agora um abrigo precário, enquanto quatro caminhões de organizações de ajuda passavam.
O furacão Matthew matou mais de mil pessoas no Haiti, dezenas de milhares perderam as suas casas, e cerca de 1,4 milhão precisam de ajuda humanitária urgente.
E isso ocorre num país empobrecido que ainda enfrenta dificuldades para se recuperar do terremoto de 2010 que matou 200 mil pessoas e reduziu muitas partes do Haiti a destroços.
Moradores aos gritos bloquearam a rota de um comboio nesta terça, perto da base das Nações Unidas na cidade de Jeremie, no noroeste do país, parando sem saber forças de paz, e não agentes de ajuda.
Forças de paz brasileiras deixaram os seus veículos com cassetetes e escudos. Elas chegaram a enviar um drone para o ar para filmar a situação, caso ela se agravasse.
Um impasse de 15 minutos se deu, perto de duas escolas usadas como abrigo. Dentro das escolas, crianças corriam nuas entre idosos sobreviventes do furacão. Alguns dos que estavam nesses abrigos afirmaram que não comiam há cinco dias.
"Estamos aqui há muito tempo e não recebemos nada. Cada caminhão que passa não nos dá nada”, disse Jean-Eddy Charles, que disse ter organizado o bloqueio.
"Nossas casas estão destruídas. Há 2.000 pessoas nessa escola. Precisamos de comida, água, barracas. Nossas crianças estão ficando doentes e vão morrer do fome”, completou.