Por Mateus Maia e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Caminhoneiros continuarão de braços cruzados na quinta-feira depois do fracasso de uma reunião da categoria com representantes do governo federal mais cedo, que não conseguiu atender a reivindicação dos motoristas para redução dos custos do óleo diesel.
Tanto a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) quanto a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) saíram da reunião afirmando que o governo não apresentou propostas para o fim da paralisação, que reúne cerca de 450 mil motoristas e já afeta uma série de setores da economia.
"O governo foi irresponsável com a situação que está o país hoje. O governo foi avisado com antecedência e nem mesmo abriu negociação", afirmou o presidente da CNTA, Diumar Bueno, após o fim da reunião que contou com presença do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e dos Transportes, Valter Casimiro.
Ele se referiu a tentativas de negociações com o governo desde que a Petrobras (SA:PETR4) adotou em meados do ano passado política de preços que permite reajustes diários nos preços dos combustíveis, algo que reduziu a previsibilidade dos autônomos na cobrança dos fretes.
Uma das soluções apontadas pelo governo, zerar Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), depende de aprovação no Congresso de projeto para reoneração da folha de pagamentos, disse Padilha a jornalistas após a reunião. Entretanto, para os caminhoneiros essa solução é insuficiente porque o tributo representa cerca de apenas 1 por cento do custo total do diesel.
Já sobre a incidência de PIS/Cofins sobre o combustível, o ministro comentou que o governo está estudando como fazer uma redução.
Segundo o presidente da Abcam, que representa cerca de 600 mil caminhoneiros dos 1 milhão que existem no país, José da Fonseca Lopes, a categoria concordou em dar um prazo até sexta-feira para o governo chegar a uma saída para redução efetiva no custo dos combustíveis. O prazo se refere ao livre trânsito de caminhões que transportam produtos essenciais como medicamentos e alimentos que precisam de refrigeração.
"Vai continuar tudo (a paralisação). A única coisa que nós concordamos é a liberação de carga viva, alimentos perecíveis, medicamentos e oxigênio, é só isso. Só isso que vai estar liberado, agora, depois de sexta-feira, aí não vai estar nada liberado, vai parar tudo", disse Lopes a jornalistas.
Os representantes dos motoristas terão uma nova reunião com o governo na tarde de quinta-feira e outra na sexta-feira. Segundo Lopes, se "houver uma boa notícia, aí vamos suspender o movimento".
Questionado se a categoria poderia aceitar uma redução parcial na PIS/Cofins sobre o diesel para encerrar a paralisação, Lopes respondeu: "Não, só se zerar. Se nós não conseguirmos isso, nós não vamos conseguir mais. Infelizmente, a verdade é essa."
Setores da economia já acusavam problemas decorrentes da paralisação no transporte de cargas. Nesta tarde, entidades representantes de supermercados, Abras, e de farmácias, Abrafarma, citavam desabastecimento de lojas. Produtores de carnes informaram que 129 fábricas estavam paradas no país por causa da paralisação dos motoristas e que 90 por cento da produção nacional poder ser interrompida até sexta-feira, se os protestos continuarem.
Na cidade de São Paulo, a prefeitura afirmou que cerca de 40 por cento da frota de 14 mil ônibus da cidade não deverá circular na quinta-feira por causa de dificuldade no abastecimento de combustível dos veículos. Mais cedo, o sindicato de empresas de ônibus coletivos afirmou que a frota pode ficar sem combustível a partir de sexta-feira.
Segundo o diretor da Agencia Nacional de Petróleo (ANP), Aurelio Amaral, há problemas de abastecimento de combustíveis nos aeroportos de Brasília e Congonhas, na capital paulista.
Em Brasília, a Inframerica, concessionária que administra o aeroporto da capital federal, informou nesta tarde que somente pousarão no terminal aviões com capacidade para decolar sem necessidade de abastecimento no aeroporto.
Enquanto o impasse continua, decisões judiciais estão sendo tomadas para desobstrução das rodovias. O juiz Marcelo Pinheiro, da 16ª Vara Federal no Distrito Federal, autorizou nesta quarta-feira o uso da força policial para reintegração de seis estradas federais que estão com o tráfego interrompido. O juiz acolheu pedido de liminar da União Federal contra a Abcam, em razão de bloqueio total nas rodovias BR-070, BR-040, BR-050, BR-060, BR-080 e BR-251.
(Com reportagem adicional de José Roberto Gomes, Aluísio Alves e Taís Haupt em São Paulo e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)