Por David Latona e Belén Carreño
MADRI (Reuters) - O Parlamento da região da Catalunha, na Espanha, deverá eleger um novo líder nesta semana, embora isso possa ser ofuscado pelo retorno de seu ex-líder do exílio autoimposto, apesar de um mandado de prisão pendente.
Carles Puigdemont é a figura mais conhecida do partido separatista radical Junts e liderou a Catalunha entre 2016 e 2017, antes de fugir da Espanha após um referendo sobre a independência considerado ilegal pelo Judiciário.
Ainda não está claro como ele planeja retornar ao país e entrar no Parlamento regional enquanto foge da polícia.
Jordi Turull, secretário-geral do Junts, disse à emissora 324 nesta terça-feira que pediria a suspensão da votação da liderança se Puigdemont fosse detido, pois "isso não pode ocorrer em condições normais" sem sua presença.
A votação para investir o socialista Salvador Illa, que será apoiado pelo partido separatista de esquerda ERC após um acordo bilateral na semana passada, terá início na quinta-feira às 10h (horário local), de acordo com o presidente do Parlamento.
EXCLUÍDOS DA ANISTIA
O Parlamento espanhol aprovou uma lei de anistia em maio perdoando os envolvidos na fracassada tentativa de secessão de 2017, mas a Suprema Corte manteve os mandados de prisão para Puigdemont e dois outros, que também foram acusados de desvio de fundos, determinando que a lei de anistia não se aplica a eles.
Uma fonte próxima a Puigdemont disse à Reuters que não tinha "nenhuma dúvida" de que o ex-líder -- que viveu na Bélgica entre 2017 e 2024 enquanto atuava como membro do Parlamento Europeu e que, nos últimos meses, esteve no sul da França -- seria preso ao reentrar na Espanha e levado à Suprema Corte em Madri.
O cientista político Toni Rodon, da Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, disse à Reuters que Puidgemont possivelmente decidiu voltar por causa do custo pessoal de viver no exílio.
"A anistia mudou o jogo, e a outra estratégia que ele pode seguir pode ser mais útil dentro das fronteiras espanholas, mesmo que ele acabe preso", acrescentou Rodon.
Em uma carta aberta publicada em sua conta no X na sexta-feira, Puigdemont descreveu os esforços da Espanha para detê-lo como um "golpe híbrido", acrescentando que "se eles tiverem sucesso, imagino o que me espera e sei o que preciso fazer".
A porta-voz do ERC, Raquel Sans, reconheceu nesta terça-feira que a prisão de Puigdemont poderia atrasar a votação para um novo líder catalão.
A polícia tentará prender Puigdemont antes que ele chegue ao prédio do Parlamento em Barcelona, que é fortemente vigiado, mas também está autorizada a entrar se necessário, informou o jornal El Periódico, citando fontes policiais.
Os policiais também estavam monitorando o sistema de esgoto para o caso de ele ser usado como rota alternativa de entrada.