Por Tom Perry
BEIRUTE (Reuters) - Demonstrando ousadia, o presidente da Síria, Bashar al-Assad, prometeu nesta segunda-feira que vai reconquistar todo o país horas antes do início de um cessar-fogo apoiado pelos Estados Unidos e pela Rússia que opositores descreveram como uma medida que favorece o líder sírio.
Em um gesto repleto de simbolismo, a televisão estatal mostrou Assad visitando Daraya, um bairro de Damasco que esteve nas mãos dos rebeldes durante muito tempo e foi recapturado no mês passado depois que combatentes se renderam a um cerco massacrante. O presidente conduziu orações ao lado de outras autoridades no saguão vazio de uma mesquita de Daraya.
"O Estado sírio está determinado a recuperar cada área dos terroristas", disse Assad em uma entrevista transmitida pela mídia estatal, flanqueado por sua delegação em um cruzamento deserto.
Ele não fez menção ao acordo de cessar-fogo, mas disse que o Exército irá continuar seu trabalho "sem hesitação, independentemente de quaisquer circunstâncias internas ou externas".
O cessar-fogo entrou em vigor às 19h (13h no horário de Brasília) e inclui um acesso melhor para a entrega de ajuda humanitária e ataques conjuntos de norte-americanos a russos a islâmicos radicais. Mas a trégua também enfrenta desafios, como a maneira de diferenciar rebeldes nacionalistas de jihadistas.
Os rebeldes dizem que o acordo beneficia Assad, que parece mais forte do que em qualquer momento desde os primeiros dias da guerra, proporcionando apoio militar da Rússia e do Irã.
A captura de Daraya, situada a alguns quilômetros de Damasco, veio na esteira de anos de cerco e bombardeios e ajudou o governo a tomar áreas importantes do sudeste da capital próximas de uma base aérea.
Auxiliado pelo poderio aéreo russo e milícias ajudadas pelo Irã, o Exército também cercou completamente a metade rebelde de Aleppo, a maior cidade da Síria antes da guerra, que passou anos dividida em regiões controladas pelo governo e pela oposição.
Na filmagem de sua visita a Daraya, Assad, de 51 anos, aparenta estar dirigindo seu próprio veículo, um SUV prateado, ao chegar à mesquita. Ele sorriu e acenou ao entrar.
A intervenção de Moscou no conflito sírio um ano atrás fez a balança pender para Assad e foi uma reação a avanços rebeldes que criaram uma ameaça crescente a seu governo. A operação também deu à Rússia um trunfo decisivo na diplomacia internacional, até agora incapaz de obter qualquer progresso para haver um entendimento político.
O acordo entre EUA e Rússia é a segunda tentativa de instaurar um cessar-fogo neste ano, já que um pacto acertado em fevereiro fracassou e os dois lados se acusaram de cometer violações.
(Reportagem adicional de Mohamed el Sherif no Cairo, Dmitry Solovyov em Moscou e Tom Miles em Genebra)