Por Paul Taylor
BRUXELAS (Reuters) - Chamado de mentiroso, covarde e piadista, o eurocético Boris Johnson foi recebido de forma hostil por outros países europeus como novo ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, com um coro de desalento.
O chanceler francês, Jean-Marc Ayrault, ignorou as cortesias diplomáticas de praxe ao indagar como um homem que contou mentiras na condição de líder da campanha pela saída britânica da União Europeia no referendo do mês passado poderia ser um interlocutor crível.
"Não estou nem um pouco preocupado com Boris Johnson, mas... durante a campanha ele mentiu muito para o povo britânico, e agora é ele quem está com as costas contra a parede", disse o chanceler Ayrault à rádio Europa 1. "Preciso de um parceiro com quem possa negociar e que seja claro, crível e confiável", acrescentou.
Johnson foi acusado de enganar os eleitores ao afirmar que o Reino Unido estava pagando 350 milhões de libras por semana à UE que poderiam ser gastos com o Serviço Nacional de Saúde. A cifra não levava em conta o desconto no orçamento de Londres nem os gastos do bloco em projetos dos setores público e privado britânicos, e desde então os defensores da separação admitiram que esses números foram inflados.
Líderes da UE, como o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, repudiaram a comparação, feita por Johnson durante a campanha, dos objetivos da união com aqueles de Hitler e Napoleão.
O impetuoso ex-prefeito de Londres insultou ou satirizou uma série de líderes mundiais, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o mandatário turco, Recep Tayyip Erdogan, e os dois candidatos que disputam a sucessão de Obama, Hillary Clinton e Donald Trump.
Theresa May, sucessora de David Cameron como premiê britânica, escolheu o outrora jornalista Johnson como seu chanceler no final de quarta-feira.
O ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse que a indicação de Johnson foi um sinal claro de que o Reino Unido pretende deixar a UE e exortou May a acabar com a incerteza comunicando formalmente, e logo, a intenção de Londres de se separar do bloco.
(Reportagem adicional de Michel Rose em Paris, Michael Nienaber e Andreas Rinke em Berlim, Alastair Macdonald e Philip Blenkinsop em Bruxelas, Orhan Coskun e Nick Tattersall em Istambul)