CAIRO (Reuters) - Israel negou a entrada do chefe da agência de refugiados palestinos da ONU (UNRWA) na Faixa de Gaza nesta segunda-feira, disseram a UNRWA e o Egito, considerando a medida algo sem precedentes em um momento de grande necessidade.
A organização está em crise desde que Israel acusou 12 de seus funcionários de participarem do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro. Philippe Lazzarini, diplomata que comanda a agência disse que pretendia viajar à cidade de Rafah, em Gaza, mas foi informado de que sua "entrada em Rafah foi recusada".
O ministro egípcio das Relações Exteriores, Sameh Shoukry, que estava com Lazzarini em uma entrevista coletiva no Cairo, disse: "O governo israelense recusou a sua entrada, o que é uma atitude sem precedentes para um representante em posição tão elevada".
O gabinete do primeiro-ministro israelense e o Ministério das Relações Exteriores do país não responderam imediatamente a um pedido de comentário.
A UNRWA é, de longe, o maior órgão de assistência em Gaza, onde a profundidade da crise humanitária foi evidenciada nesta segunda-feira por um relatório, apoiado pela ONU, que alerta para a fome iminente no norte do enclave.
"No dia em que são divulgados novos dados sobre a fome em #GAZA, as autoridades israelenses negam minha entrada em Gaza", escreveu Lazzarini no X, acrescentando que sua visita tinha o objetivo de melhorar as operações humanitárias.
"Essa fome provocada pelo homem sob os nossos olhos é uma mancha em nossa humanidade coletiva."
A ofensiva militar de Israel devastou o enclave nos últimos cinco meses, matando mais de 31.000 pessoas, segundo autoridades de saúde da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas.
A ofensiva foi desencadeada quando os combatentes do Hamas invadiram Israel em um ataque que matou 1.200 pessoas e resultou na tomada de outras 253 como reféns, de acordo com registros israelenses.
Em janeiro, Israel alegou que 12 dos 13.000 funcionários da UNRWA em Gaza teriam participado do ataque de 7 de outubro. As acusações israelenses levaram 16 países, incluindo os Estados Unidos, a suspenderem 450 milhões de dólares em financiamento, colocando as operações da UNRWA em crise.
A UNRWA demitiu alguns membros da equipe, e disse que agiu para proteger a capacidade da agência de fornecer assistência humanitária. Também foi instalada uma investigação interna independente na ONU.
A Austrália é um dos vários países que posteriormente retomaram o financiamento à agência. Seu ministro das Relações Exteriores disse na semana passada que a Austrália havia consultado a UNRWA e outros doadores e estava convencida de que a agência não era uma organização terrorista.
A UNRWA condenou os ataques de 7 de outubro, dizendo que as alegações israelenses contra a agência -- se verdadeiras -- configuram uma traição aos valores da ONU e às pessoas atendidas pela UNRWA.
A diretora de comunicações da UNRWA, Juliette Touma, disse à Reuters que Lazzarini visitou a Faixa de Gaza quatro vezes durante a guerra e em várias ocasiões antes disso.
"Estávamos prontos para partir nesta manhã em um avião egípcio do Cairo para El Arish", disse Touma.
Lazzarini já havia alertado para o que chamou de uma campanha para acabar com as operações da UNRWA. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, defendeu que a UNRWA deve ser fechada.
No Cairo, o chefe da UNRWA alertou sobre uma "corrida contra o relógio" para reverter a propagação da fome e evitar a carestia. Com vontade política, Gaza poderia ser "inundada" com alimentos por meio de passagens terrestres, acrescentou.
Ele também disse que mais de 150 das instalações da UNRWA em Gaza foram atingidas, danificadas ou completamente destruídas.
"Também sabemos que vários funcionários que foram presos passaram por investigações muito duras, maus-tratos e humilhações", disse Lazzarini.
(Reportagem de Sarah El Safty, Nayera Abdallah, Clauda Tanios, Tom Perry em Beirute, James Mackenzie e Emily Rose em Jerusalém)