Por Kate Kelland
LONDRES (Reuters) - O estudo de uma nova técnica de fertilização in vitro com três pais, concebida para diminuir o risco de transmissão de doenças hereditárias maternas para os bebês, revelou a probabilidade de funcionar bem e levar a gestações normais, disseram cientistas britânicos.
No ano passado o Parlamento da Grã-Bretanha se tornou o primeiro do mundo a permitir a técnica de fertilização in vitro (FIV) com três pais, que segundo os médicos irá evitar doenças hereditárias incuráveis, mas que críticos veem como um passo rumo a "bebês por encomenda".
Tendo finalizado testes pré-clínicos com mais de 500 óvulos de 64 doadoras, pesquisadores da universidade britânica de Newcastle afirmaram que a técnica, chamada de "transferência pronuclear precoce", não prejudica o desenvolvimento embrionário inicial.
O método também se mostrou promissor para "reduzir consideravelmente" o nível de mitocôndrias defeituosas no embrião, disseram os pesquisadores –confirmando as esperanças de que ele provavelmente irá diminuir o risco de transmissão de doenças mitocondriais debilitantes, e que muitas vezes impõe várias limitações, das mães para os filhos.
"A mensagem central é que não encontramos indícios de que a técnica não seja segura. Os embriões criados com esta técnica têm todas as características que conduzem à gravidez", disse Doug Turnbull, diretor do Centro de Pesquisa Mitocondrial de Newcastle e co-autor do estudo.
"Este estudo, que usou óvulos humanos normais, é um grande avanço em nosso trabalho para evitar a transmissão de doenças de DNA mitocondrial", acrescentou.
A transferência pronuclear envolve uma intervenção no processo de fertilização para remover mitocôndrias, que agem como minúsculas baterias geradoras de energia dentro das células e que, se defeituosas, podem causar problemas cardíacos fatais, insuficiência renal, distúrbios cerebrais, cegueira e distrofia muscular hereditários.
O tratamento é conhecido como fertilização in vitro com três pais porque os bebês, nascidos de embriões modificados geneticamente, teriam DNA de uma mãe, um pai e uma doadora.
Os resultados da pesquisa, publicada nesta quarta-feira na revista científica Nature, serão analisados pela Autoridade de Fertilização e Embriologia da Grã-Bretanha, que terá a palavra final para decidir se emite a primeira licença para uma clínica.