SANAA/DUBAI/GENEBRA (Reuters) - Uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita disse nesta sexta-feira que investigará um ataque aéreo que matou dezenas de crianças no Iêmen, uma aparente mudança de postura diante de uma investida que Riad retratou como uma ação legítima contra seus inimigos houthis.
Ao menos 40 crianças morreram no ataque de quinta-feira contra um ônibus no norte iemenita, segundo o grupo armado houthi que controla a capital – o que elevou o saldo de mortes inicial de 29 crianças mortas na ação.
O bombardeio da aliança de países árabes apoiada pelo Ocidente revoltou grupos de direitos humanos e foi condenada com veemência por autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU). Henrietta Fore, diretora-executiva do Fundo das Nações Unidas para as Crianças (Unicef), disse que o ataque "horrível" marcou "um dos piores momentos da guerra brutal (no Iêmen)".
Moradores de Saada começaram a cavar túmulos para preparar os funerais que serão realizados no sábado.
"Que Deus nos dê paciência", disse Hussein Hussein Tayeb, que perdeu três filhos que visitariam uma mesquita e tumbas com outros alunos no ataque ao ônibus.
"Fui um dos primeiros a chegarem ao local, tentando resgatar os feridos; ergui um corpo e descobri que era o rosto de Ahmed. Eu o abracei, era meu filho".
Ahmed tinha 11 anos, e seus irmãos Yusef e Ali tinham 14 e 9.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu uma investigação independente do bombardeio que atingiu o ônibus quando este atravessava um mercado de Dahyan, cidade situada em Saada, a província natal dos houthis.
Nesta sexta-feira o Conselho de Segurança da ONU pediu um inquérito "crível e transparente" depois de receber um informe a respeito do ataque de uma autoridade graduada da ONU a portas fechadas.
Uma equipe da Reuters TV viu meninos feridos pelo ataque em camas no hospital de Dahyan, muitos com as cabeças enfaixadas. O rosto de um deles estava coberto de lacerações.
Os países árabes realizaram novos ataques aéreos nesta sexta-feira, matando uma menina e ferindo várias outras pessoas cuja casa foi atingida na província de Marib, ao leste da capital Sanaa, disse a televisão Al-Masirah dos houthis.
Ao anunciar a investigação sobre o ataque ao ônibus, a Agência de Imprensa Saudita citou uma autoridade da aliança que disse: "A coalizão está comprometida firmemente a investigar todas as alegações de erros ou violações da lei internacional para sancionar aqueles que causaram estes incidentes e para fornecer assistência às vítimas".