Por Luc Cohen e Jack Queen
NOVA YORK (Reuters) - O ex-faz tudo de Donald Trump, Michael Cohen, disse aos jurados nesta segunda-feira que combinou secretamente com o candidato republicano à presidência e o editor-chefe de um tabloide um esquema para silenciar histórias negativas que poderiam prejudicar a sua campanha em 2016, enquanto os promotores tentavam provar que Trump escondeu ilegalmente a compra do silêncio de uma estrela pornô.
Antes um dos tenentes mais leais de Trump, Cohen é agora a principal testemunha da acusação, com o julgamento entrando em sua quinta semana em um tribunal criminal do Estado de Nova York em Manhattan. O pagamento de 130.000 dólares de Cohen para Stormy Daniels antes da eleição de 2016, com o intuito de impedi-la de falar em público sobre um encontro sexual em 2006 que ela afirma ter tido com Trump, é central para o caso.
Cohen relatou que ele, Trump e o editor-chefe do National Enquirer, David Pecker, concordaram em usar o tabloide para impulsionar a candidatura de Trump à Presidência, bloqueando histórias negativas que poderiam prejudicar suas chances.
Em junho de 2016, um mês antes da Convenção Nacional Republicana, Cohen disse ter descoberto pelo Enquirer que a ex-modelo da Playboy, Karen McDougal, estava tentando vender uma história sobre um caso de um ano de duração que disse ter tido com Trump.
"Certifique-se que isso não seja publicado", teria dito Trump, de acordo com Cohen.
Os jurados ouviram uma gravação que Cohen disse ter feito de uma ligação telefônica na qual Trump pergunta: "Então, o que temos que pagar por isso? 150?".
Trump referia-se ao reembolso de um pagamento de 150.000 dólares para Pecker feito pelo Enquirer para adquirir os direitos exclusivos da história de McDougal, segundo Cohen. Trump também pode ser ouvido orientando Cohen a pagar em dinheiro, o que, de acordo com Cohen, seria para "evitar qualquer tipo de transação em papel".
Em um depoimento anterior ao julgamento, Pecker afirmou que comprou a história de McDougal para garantir que nunca fosse publicada.
Os promotores disseram que o pagamento a Daniels era parte da mesma operação de "catch and kill" ("pegar e matar") entre Trump, Cohen e Pecker para pagar pessoas com histórias potencialmente negativas sobre Trump, violando leis de financiamento de campanha.
Trump é acusado de ter escondido o pagamento a Daniels, reembolsando Cohen com um honorário legal falso irregularmente registrado nos arquivos da empresa imobiliária de Trump. Segundo os promotores, os registros comerciais adulterados acobertaram violações de leis eleitorais e fiscais que elevam as 34 denúncias contra Trump de contravenções a crimes, puníveis com até quatro anos de prisão.
Trump se declarou inocente de todas as 34 acusações e nega que teve um encontro sexual com Daniels. Ele argumenta que o caso é uma tentativa de interferir com sua campanha por motivos políticos.
Por quase uma década, Cohen, de 57 anos, trabalhou como executivo e advogado para a empresa de Trump e chegou a dizer que levaria um tiro por Trump, um ex-presidente republicano que tentará recuperar a Casa Branca do presidente democrata, Joe Biden, na eleição deste ano em 5 de novembro.
COHEN É ALVO FREQUENTE DE TRUMP
Cohen, que foi advogado pessoal do ex-presidente após o começo do seu mandato presidencial em 2017, rompeu com o republicano durante um inquérito de promotores federais sobre a campanha presidencial de Trump em 2016.
Em 2018, Cohen declarou-se inocente de violar leis federais de financiamento de campanha ao pagar Daniels e prestou depoimento dizendo que Trump o orientou a fazê-lo. Promotores federais não denunciaram Trump por nenhum crime.
Cohen tornou-se um dos maiores críticos de Trump. Na sexta-feira, o juiz Juan Merchan pediu aos promotores que falassem com Cohen para que ela pare de fazer declarações públicas sobre o caso.
Cohen admitiu ter mentido sob juramento várias vezes, o que oferece um material substancial para a defesa tentar minar a sua credibilidade.
(Reportagem de Luc Cohen e Jack Queen em Nova York)