Por Robin Pomeroy
CANNES, França (Reuters) - Peça a Colin Farrell para comentar a insistência do diretor Yorgos Lanthimos em dizer que o filme que levou ao Festival de Cannes deste ano é uma comédia e ele explode de rir.
"Ele não bate bem da cabeça", disse Farrell à Reuters sobre Lanthimos, que escreveu e dirigiu "The Killing of a Sacred Deer", exibido no festival de cinema.
"Existem algumas coisas engraçadas nele, algumas abordagens existenciais que são engraçadas mesmo sendo constrangedoras, tenho certeza. Mas... para mim, pelo menos, é uma tragédia sombria", disse Farrell, que interpreta um personagem quase anestesiado por um acontecimento traumático de seu passado.
"Sacred Deer" mergulha no universo dos filmes de terror ainda mais do que o angustiante "O Lagosta", no qual Farrell viveu um homem destinado a se tornar um crustáceo e que competiu em Cannes dois anos atrás.
Quase impossível de descrever sem revelar demais, "Sacred Deer" traz o ator como um cirurgião cardíaco que, no início do filme, tem um relacionamento misterioso com um adolescente. À medida que sua vida familiar desmorona, ele é forçado a fazer uma escolha impossível, o "sacrifício" do título.
"Sacred Deer" é um de dois filmes de Farrell competindo em 2017 pela Palma de Ouro em Cannes – o outro é "O Estranho Que Nós Amamos", de Sofia Coppola, também estrelado por Nicole Kidman.
"É um enfoque intrigante, perturbador, divertido sobre algo que de muitas maneiras poderia ser um misto de terror e suspense convencional dos anos 1970 ou 1980, ou mesmo um pesadelo à la 'Atração Fatal' dos anos 1990", escreveu Peter Bradshaw, do jornal The Guardian, a respeito do lançamento, que disse explorar "seu espectro próprio de esquisitice".
Lanthimos contou que estava buscando a comédia e o terror --como fez em "O Lagosta", que provocou bastante burburinho em Cannes em 2015, mas não levou a Palma de Ouro.
"Criar algo que seja engraçado, horroroso, trágico e violento, tudo ao mesmo tempo --indo de um para o outro--, é isso que venho tentando fazer na maioria dos meus filmes", disse o diretor grego à Reuters.
Durante a entrevista de Farrell, era possível ouvir a trilha sonora impactante que acompanha o desenrolar arrepiante de "Sacred Deer" através das paredes de uma sala próxima.
Apontando na direção da sala de exibição, Farrell disse: "Outras 800 pessoas estão sendo torturadas".
(Reportagem adicional de Sarah Mills)