Por Anastasia Moloney
BOGOTÁ (Thomson Reuters Foundation) - As promessas da Colômbia de conter o aumento do desmatamento e proteger sua floresta amazônica andam "de mãos dadas" com a pressão do governo para acabar com décadas de violência ao negociar com grupos armados ilegais, disse a ministra do Meio Ambiente, Susana Muhamad.
Ela afirmou que as questões do desmatamento estão na mesa de negociações enquanto gangues criminosas, traficantes de drogas e grupos guerrilheiros dissidentes buscam uma possível paz ou acordos de rendição sob o esforço do presidente Gustavo Petro de trazer "paz total" ao país andino.
"A agenda ambiental sobre o desmatamento anda de mãos dadas com o processo de paz total", disse Susana Muhamad em entrevista, acrescentando que as promessas de grupos armados de interromper o desmatamento nas áreas que controlam estão sendo vistas como um gesto de boa vontade.
“Incluímos no processo de exploração com os grupos armados nas áreas, principalmente na Amazônia, a questão do não desmatamento, como um compromisso inicial de boa vontade”, afirmou a ministra, que assumiu o cargo após a posse de Petro como primeiro presidente de esquerda do país em agosto.
"Vimos que isso tem funcionado para conter o processo de desmatamento em algumas áreas da Amazônia... não sei dizer em que porcentagem", disse ela.
Susana Muhamad, uma ambientalista, observou que o comissário de paz do governo está encarregado das negociações em andamento com mais de uma dezena de grupos criminosos visando pôr fim a seis décadas de derramamento de sangue.
As negociações buscam reduzir a violência fazendo com que os grupos armados deponham suas armas em troca de benefícios como redução das penas de prisão. No início de fevereiro, membros de quatro grupos armados concordaram com cessar-fogo.
Durante décadas, as florestas da Colômbia foram usadas por uma miríade de grupos criminosos e guerrilheiros como esconderijos, corredores do narcotráfico e redutos que até recentemente protegiam as florestas da destruição generalizada.
Mas faixas de floresta se abriram para agricultura e pecuária depois que o governo e os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) assinaram um acordo de paz em 2016, além de gangues criminosas que se mudaram para antigas áreas de guerrilhas.
A derrubada de árvores também é impulsionada pela mineração ilegal de ouro e pela disseminação implacável de plantações de coca usadas para produzir cocaína --uma tendência que Petro disse que enfrentará fazendo acordos voluntários com plantadores de coca para mudar para plantações legais.
Proteger a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo espalhada por oito países da América do Sul, é vital para conter a mudança climática por causa da grande quantidade de dióxido de carbono que aquece o planeta que suas árvores absorvem.
Em 2021, o desmatamento na Colômbia aumentou 1,5% em relação aos níveis de 2020, para 174.103 hectares, dos quais cerca de dois terços estavam localizados na Amazônia, mostram dados do governo.
A Colômbia pretende reduzir o desmatamento para 140.000 hectares por ano até 2026 e restaurar 1,7 milhão de hectares de florestas degradadas ou danificadas até 2026 --três vezes mais do que a quantidade alcançada pelo governo anterior.
O resultado dessas metas de desmatamento será parcialmente determinado pelos compromissos assumidos por grupos armados em negociações de paz e programas de substituição da coca, dizem especialistas.
“Qualquer política de paz terá que incluir questões ambientais e mudanças na política de drogas para que os esforços de desmatamento sejam bem-sucedidos”, disse o ambientalista Rodrigo Botero, que dirige a Fundação para Conservação e Desenvolvimento Sustentável (FCDS), com sede em Bogotá.