Por Josh Horwitz e Muyu Xu
XANGAI/PEQUIM (Reuters) - O coronavírus está ameaçando prejudicar grande parte da máquina industrial da China e suas cadeias de suprimentos globais, conforme a disseminação da infecção e medidas severas de saúde pública forçam empresas e trabalhadores a permanecerem inativos.
O feriado mais importante da China terminaria nesta sexta-feira, quando muitas empresas planejavam voltar ao trabalho depois de uma semana de folga, mas as autoridades ordenaram que empresas de muitas áreas fiquem fechadas por mais tempo em uma tentativa de conter a doença.
Enquanto isso, restrições generalizadas a viagens significam que milhões de trabalhadores imigrantes podem não conseguir retornar ao que costuma ser chamado de "chão de fábrica do mundo".
A Organização Mundial da Saúde declarou na quinta-feira o surto como uma emergência de saúde global, já que o número de mortos na China atingiu mais de 200, com mais de 9 mil infectados.
Brian Miller, 32 anos, proprietário da Easy China Warehouse e uma empresa de alto-falantes bluetooth na cidade de Shenzhen, no sul do país, disse que as interrupções na mão-de-obra e na produção podem se espalhar pelas cadeias de suprimentos, das matérias-primas à montagem final.
"Se não conseguirmos voltar à produção rápido o suficiente, ficarei sem estoque e terei alguns meses em que não poderemos vender nada. E essa é a catástrofe ninguém quer", disse Miller à Reuters.
Em Suzhou, no leste da China, um dos maiores centros industriais do país, as empresas devem permanecer fechadas até pelo menos 8 de fevereiro e, em Xangai, até 9 de fevereiro. As fábricas no centro industrial de Dongguan, na província de Guangdong, orientada para a exportação, também foram avisadas para não abrir antes de 10 de fevereiro.
A ameaça de interrupções significativas ocorre no momento em que a China já estava passando pela maior mudança na cadeia de suprimentos em uma geração, à medida que as empresas enfrentavam o impacto da guerra comercial sino-americana e uma desaceleração econômica.
"O surto definitivamente está causando grandes danos aos nossos negócios, pois todos se preocuparão com o ressurgimento do vírus, mesmo que ele seja controlado", disse a co-proprietária de uma fábrica de roupas em Huizhou, na província de Guangdong.
O risco de um choque nas atividades empresariais e de consumo levou um economista do governo chinês a prever que o crescimento econômico pode cair para 5% ou menos, ante 6,1% em 2019. Durante a epidemia de Sars em 2002 e 2003, o crescimento caiu dois pontos percentuais, mas se recuperou rapidamente, uma vez que o surto foi controlado.