Por David Stanway e Josh Smith
XANGAI/SEUL (Reuters) - O número de novas infecções por coronavírus dentro da China --a origem do surto-- foi superado pela primeira vez por novos casos em outros países na quarta-feira, quando os mercados norte-americanos recuaram por temores da rápida disseminação global da doença.
A Ásia registrou centenas de novos casos, o Brasil confirmou a primeira infecção da América Latina e a nova doença --Covid-19-- também atingiu Paquistão, Grécia, Argélia, Noruega e Romênia. O conglomerado global de alimentos Nestlé suspendeu todas as viagens de negócios até 15 de março.
Autoridades de saúde dos Estados Unidos, onde há 59 casos até agora --a maioria deles entre repatriados de um navio de cruzeiro no Japão-- disseram ser provável uma pandemia global. Mas o presidente Donald Trump acusou canais de TV a cabo que frequentemente o criticam de "fazer todo o possível para que o (coronavírus) pareça o pior possível, deixando mercados em pânico". Os mercados de ações em todo o mundo perderam 3,3 trilhões de dólares em quatro dias, como medido pelo índice mundial MSCI.
Wall Street reverteu ganhos iniciai na tarde de quarta-feira, com receio de que o vírus se espalhe pelos Estados Unidos, e os preços do petróleo caíram para o nível mais baixo em mais de um ano.
Autoridades de saúde disseram que dezenas de pessoas que estiveram na China estavam sendo monitoradas nos subúrbios da populosa cidade de Nova York.
"Até agora não há casos confirmados de coronavírus na cidade de Nova York", disse o prefeito Bill de Blasio em uma entrevista coletiva, pedindo ao governo federal que intensifique os exames para visitantes de vários países onde o vírus está se espalhando.
Acredita-se que a origem do novo coronavírus tenha sido em um mercado da cidade chinesa de Wuhan no fim do ano passado. A doença já infectou cerca de 80 mil pessoas e matou mais de 2.700, a maioria na China.
Embora medidas radicais de quarentena tenham ajudado a diminuir a taxa de transmissão na China, ela está se acelerando em outros lugares.
A Alemanha, que tem cerca de 20 casos, afirmou que já era impossível rastrear todas as cadeias de infecção, e o ministro da Saúde, Jens Spahn, pediu às autoridades regionais, hospitais e empregadores que revisem seu planejamento de pandemia.
"Um grande número de pessoas teve contato com os pacientes, e isso é uma grande mudança para os 16 pacientes que tínhamos até agora, onde a cadeia poderia ser rastreada até a origem na China", disse ele.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que a China registrou 412 novos casos na terça-feira, enquanto houve 459 registros em outros 37 países.
No entanto, o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, aconselhou diplomatas em Genebra na quarta-feira a não falar em pandemia --que a OMS define como a disseminação mundial de uma nova doença.
"Usar a palavra pandemia de forma descuidada não traz benefícios tangíveis, mas de fato tem um risco significativo em termos de amplificar medo e estigma desnecessários e injustificados e paralisar sistemas", disse. "Isso também pode sinalizar que não podemos mais conter o vírus, o que não é verdade."