Por Daniel Wallis e Daniel Trotta
HAVANA (Reuters) - Cuba libertou alguns importantes dissidentes na quarta-feira, depois de mantê-los presos durante a noite para impedir uma manifestação não autorizada, num ato que põe à prova sua nova política de aproximação com os Estados Unidos.
A polícia deteve vários opositores políticos na terça-feira e manteve outros sob virtual prisão domiciliar antes de um ato que estava previsto para acontecer do lado de fora da sede do governo comunista, na Praça da Revolução, em Havana.
As prisões foram típicas da forma como o regime cubano impede atos de oposição, mas agora ganham significado maior ao ocorrer apenas duas semanas depois de os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, terem anunciado que iriam reatar relações diplomáticas e terminar com décadas de hostilidade.
Entre os libertados na quarta-feira estava a artista Tania Bruguera, que organizou a manifestação. Depois de cerca de uma hora em liberdade, ela foi pega de novo pela polícia e repreendida por mais duas horas e meia, afirmou.
No intervalo entre as detenções, ela afirmou em entrevista à Reuters que planejava organizar um evento similar, mas de menor porte, de frente para o mar, perto da casa da mãe. No entanto, quando andava para o local, ela foi detida, pela segunda vez, por policiais à paisana.
O evento não ocorreu.
"Não estou fazendo isso como uma dissidente. Estou fazendo isso como uma pessoa normal", disse ela no apartamento da mãe, minutos antes da segunda prisão. "Não sou uma contrarrevolucionária, como eles dizem. Venho de uma família revolucionária. Vou continuar o projeto."
Uma autoridade do governo cubano não quis comentar o caso.
Um dos outros detidos é Reinaldo Escobar, marido da proeminente blogueira dissidente Yoani Sánchez, que foi libertado na noite de terça.
A dissidente Comissão Cubana para os Direitos Humanos e a Reconciliação Nacional disse que mais de 50 cubanos foram presos e que cerca de dez ainda estavam sob custódia na noite de quarta-feira.
"Ao mesmo tempo que o governo está normalizando relações com os EUA, ele ainda não decidiu normalizar as relações com o povo de Cuba", disse Elizardo Sanchez, que comanda a comissão.
"Não achamos que haverá uma relação de causa e efeito entre a retomada de relações com os EUA e a melhora da situação dos direitos humanos em Cuba."
Autoridades cubanas não divulgam informações sobre atividades policiais, e a Reuters pôde checar o número de detidos.