Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - Preocupado com o péssimo sinal que a crise política passa para o mercado, o governo tenta um armistício com o PMDB no Congresso para evitar a derrubada do veto que prevê a correção de 6,5 por cento na tabela de Imposto de Renda e criar um ambiente que permita a aprovação de medidas do ajuste fiscal.
Nesta terça-feira, o partido indicou que pode aceitar uma trégua. Após indicarem que aprofundariam a crise com o Executivo em entrevistas recentes, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se reuniram com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para negociar uma proposta alternativa de reajuste da tabela de IR da Pessoa Física.
A proposta foi apresentada a Dilma na segunda-feira, numa reunião com os líderes aliados do Senado, e pela primeira vez a petista recuou da proposta inicial de conceder um reajuste de apenas 4,5 por cento para todas as alíquotas do IR. Ela foi avisada que se o governo não mudasse de posição seu veto seria derrubado na sessão do Congresso de quarta-feira e a tabela seria reajustada em 6,5 por cento.
A proposta de reajuste diferenciado por alíquotas, com menor correção para as pessoas com maior renda, foi elaborada pelo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), que pediu ajuda do ministro de Minas e Energia, o também peemedebista Eduardo Braga, para construir uma agenda entre Levy e os presidentes da Câmara e do Senado.
Um peemedebista da Câmara chamou a atenção para os movimentos. "Veja que a articulação foi feita pelo PMDB e deixou de fora a articulação política oficial do governo", afirmou em referência ao ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas.
Em mais um gesto de trégua, o vice-presidente Michel Temer, que preside a legenda, se reunirá com Renan pouco antes da reunião de líderes do Senado, quando será debatida a proposta alternativa para reajuste da tabela de IR.
"Estamos tentando uma reaproximação, o Temer tem ajudado nisso, estamos procurando os líderes", disse à Reuters uma fonte do Palácio do Planalto sob condição de anonimato.
A fonte, porém, disse que é cedo para saber se isso resultará numa reaproximação definitiva.
Uma segunda fonte do governo, que também pediu para não ter seu nome revelado, concordou que é cedo para comemorar a reaproximação.
"Está todo mundo preocupado com o sinal que está passando para o mercado. Veja o dólar como está. Vamos tentar encontrar uma solução negociada", afirmou a fonte.
PONTES DINAMITADAS
Nas últimas semanas, a articulação política do governo se deteriorou e as pontes com a cúpula do PMDB foram dinamitadas depois da divulgação da lista de políticos que serão investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento com o escândalo de corrupção na Petrobras, revelado pela operação Lava Jato.
Dessa lista constam Cunha (PMDB-RJ) e Renan, que em entrevistas recentes disseram que o governo influenciou a lista para pressionar o Congresso e o partido.
Renan, antes da abertura de inquérito no STF, já havia rejeitado uma medida provisória que fazia parte do pacote de ajuste fiscal e reduzia as desonerações tributárias para vários setores da economia.
Preocupado com a imagem de que perdeu o controle sobre os aliados no Congresso, desde o final de semana a presidente Dilma Rousseff tem tentado uma reaproximação com aliados, pedido ajuda ao vice-presidente Michel Temer e e recuado em algumas posições de negociação de matérias no Congresso em busca de um armistício com os peemedebistas.