RIO DE JANEIRO (Reuters) - A entrega da articulação política ao vice-presidente Michel Temer foi um solução pacificadora encontrada pela presidente Dilma Rousseff para dar andamento às negociações do governo em várias frentes, avaliou nesta terça-feira o ministro da Defesa, Jaques Wagner.
Segundo o ministro petista, a presidente compreendeu que comanda um governo de coalizão e precisa dividir decisões, vitórias e até derrotas com os seus aliados.
"Não tenho visão absolutista do poder, acho que ele tem que ser compartilhado... o movimento da presidente Dilma de trazer o vice-presidente para o centro da articulação foi uma medida pacificadora da presidente", disse o ministro a jornalistas no Rio de Janeiro.
"Não temos um sistema bipartidário como em outros países, somos plural. Então, temos que evidentemente trabalhar em coalizão e ninguém entra numa coalizão se não puder compartilhar ônus e bônus", afirmou.
Temer é também o presidente do PMDB, maior partido da base governista, que vem dando dor de cabeça ao governo no Congresso, onde a legenda preside a Câmara dos Deputados e o Senado.
O ministro, ex-governador da Bahia, discordou da opinião do colega de partido e ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro sobre o atual papel do PT, que seria secundário, segundo o gaúcho. Wagner também negou que o governo estaria nas mãos do PMDB, dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL).
"Não acho que o papel do PT é secundário. As ruas mostram que as pessoas protestam contra o governo e contra o PT, o que mostra o nosso protagonismo", disse, numa referência aos protestos, como o ocorrido no domingo.
Sobre a defesa de intervenção militar feita por alguns manifestantes que foram às ruas, Wagner disse que essa "bandeira não consegue motivar ninguém".
Acompanhado por militares da Marinha, Exército e Aeronáutica, o ministro afirmou que não existe nenhum movimento de militares nesse sentido.
"No seio das Forças (Armadas) como um todo esse apelo tem aderência tendente a zero... discordo desse pensamento (de intervenção) porque ele afronta a Constituição e a democracia. Acho que não tem nenhuma chance de crescer... é uma pregação extremista e totalmente fora da realidade", afirmou o ministro, que esteve na capital fluminense para a abertura de uma feira internacional sobre segurança, acompanhado dos principais comandantes das Forças Armadas brasileiras.
CAÇAS E AJUSTE FISCAL
Segundo o ministro, as discussões dentro do governo para o contigenciamento de recursos do Orçamento deste ano não vão atrapalhar a compra de aviões Gripen, da sueca Saab, pelo Brasil. Ele disse que a parceria com os suecos prevê um desembolso brasileiro baixo para este ano.
Wagner reiterou que serão investigadas denúncias de supostas irregularidades na licitação dos aviões.
"Isso volta à tona, provavelmente, porque a gente está ultimando o processo de assinatura do contrato de financiamento com os suecos. Não nos cabe a ingenuidade e há uma disputa comercial muito forte nesse contrato e interesses estratégicos", disse. "Estou seguro que não houve irregularidades."
O Ministério Público está investigando supostas irregularidades na licitação de 5,4 bilhões de dólares feita pelo governo brasileiro em 2014. O contrato prevê a compra de 36 caças da sueca Saab para equipar a FAB. A apuração mira uma eventual diferença entre os preços das propostas inicial e final dos suecos que poderia chegar a 900 milhões de dólares.
O ministro afirmou ainda que a compra dos modelos Grippen tem como objetivo levar o Brasil a um período de aprendizagem para no futuro o país se tornar um pólo exportador de aviões de combate. O primeiro caça deve ser entregue ao Brasil em 2018.
(Por Rodrigo Viga Gaier)