Desabrigados do Haiti esperam que força apoiada pela ONU traga segurança

Publicado 04.10.2023, 13:58
Atualizado 04.10.2023, 14:00
© Reuters. Pessoas que fogem da violência de gangues se abrigam em uma arena esportiva, em Porto Príncipe
01/09/2023
REUTERS/Ralph Tedy Erol

Por Steven Aristil

PORTO PRÍNCIPE (Reuters) - "Somos obrigados a aceitá-la", disse Charles Adison em uma das muitas escolas que foram convertidas em campos de refugiados improvisados na capital do Haiti, Porto Príncipe, falando sobre uma resolução da ONU desta semana que prevê a entrada de forças estrangeiras no país para ajudar a polícia a restaurar a ordem.

A Organização das Nações Unidas estima que cerca de 200 mil haitianos tenham sido deslocados em meio à escalada da violência, com gangues armadas realizando assassinatos indiscriminados, sequestros, estupros coletivos e queimando as casas das pessoas.

Há um ano, o governo não eleito do Haiti solicitou ajuda urgente de forças militares estrangeiras, mas foi somente em julho que o Quênia se tornou o primeiro país a propor a liderança dessa força e, na segunda-feira, ela foi autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU.

"Se eles fizerem o trabalho de acordo com o que dizem, pode ser muito bom para nós, poderemos voltar para casa", disse Neptune Dieudonne, que está em um acampamento improvisado no Rex Theatre, no centro da cidade.

Jean Remy Renald, abrigado em um acampamento na escola Colbert Lochard, disse que apoia a força se ela tiver um bom roteiro, mas foi cauteloso com a falta de transparência dos líderes do Haiti e com os abusos cometidos por missões anteriores da ONU.

© Reuters. Pessoas que fogem da violência de gangues se abrigam em uma arena esportiva, em Porto Príncipe
01/09/2023
REUTERS/Ralph Tedy Erol

"Quando os militares estão no país, eles estupram mulheres, brincam com nossa precariedade", disse ele. "Quando os militares vão embora, deixam muitas crianças para trás e nos transmitem cólera."

Uma missão da ONU entre 2004 e 2017 no Haiti deixou para trás um escândalo de abuso sexual e um surto de cólera que matou quase 10 mil pessoas.

Para Adison, a independência não é compatível com forças militares estrangeiras. "Mas, dada a situação atual, somos obrigados a aceitá-la. Devido à insegurança, somos obrigados a dormir nas ruas, não podemos viver."

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