BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff, que tenta a reeleição pelo PT, disse nesta sexta-feira que considerou "estarrecedora" a divulgação de depoimentos com denúncias de corrupção na Petrobras em plena campanha eleitoral, questionando ainda se foram disponibilizados na íntegra.
"Acho muito estranho e muito estarrecedor que no meio de uma campanha eleitoral façam esse tipo de divulgação", disse Dilma a jornalistas nesta sexta-feira, no Palácio da Alvorada. "Que não se use isso de forma leviana em períodos eleitorais e de forma incompleta."
Na véspera foram divulgados áudios com declarações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa detalhando um suposto esquema de propinas na estatal que desviaria recursos para PT, PMDB e PP.
"O que me faz achar muito questionável é justamente o fato de se apresentar parte da prova ou parte dos depoimentos", afirmou.
"Em toda campanha eleitoral há denúncias que depois não se comprovam e assim que acaba a eleição ninguém se responsabiliza por elas", continuou.
Mais tarde, a Justiça Federal do Paraná divulgou nota afirmando que os depoimentos de Costa e também de Alberto Youssef, realizados na quarta-feira e disponibilizados na quinta-feira, fazem parte de ações penais que "não tramitam em segredo de Justiça e, portanto... estão sujeitas ao princípio da publicidade".
A nota esclarece ainda que "permanecem sob sigilo os termos da delação premiada".
No final da tarde, em Canoas (RS), a presidente voltou a criticar o uso eleitoral das denúncias e atacou os tucanos, dizendo que não investigavam quando governaram o país e agora querem dar um golpe eleitoral.
"Jamais investigaram, jamais puniram, jamais procuraram acabar com esse crime horrível que é a corrupção", disse Dilma. "Agora, na véspera eleitoral, eles sempre querem dar um golpe, estão dando um golpe e esse golpe nós não podemos concordar com ele."
DIREITO DE DEFESA
Sobre a permanência do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, citado como envolvido no depoimento do ex-diretor da Petrobras, Dilma disse que vai investigar todas as pessoas, mas que respeita a premissa do direito à defesa.
"Não basta só alguém falar que ouviu dizer, não lembra quando, pode ser que foi, e aí você pega e condena a pessoa", disse, acrescentando que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, tem mantido conversas com Machado.
Questionada se considerava que o PT "errou" neste caso, Dilma defendeu que as pessoas envolvidas nos casos de corrupção sejam punidas, e não as instituições como os partidos políticos.
"Se o PT errou... pessoas do PT erraram, se qualquer outro partido tiver pessoas que erraram, elas têm que ser punidas... doa a quem doer", disse a presidente.
"Você não condena uma instituição, no Brasil você condena pessoas."
COMBATE À CORRUPÇÃO
Ao reafirmar que tem "tolerância zero" com a corrupção, Dilma voltou a dizer que foi a única dos candidatos à Presidência que apresentou medidas sobre o tema, como a transformação da prática do caixa 2 em crime eleitoral e ações para agilizar o trâmite judicial desses casos.
A presidente aproveitou para criticar o PSDB, dizendo que seu governo respeitou a autonomia de órgãos de investigação como a Polícia Federal e o Ministério Público.
"Quero lembrar que nem sempre foi assim no Brasil. A Polícia Federal foi aparelhada, sim. Foi dirigida durante algum tempo, vocês sabem muito bem, por pessoa que tinha inclusive filiação ao PSDB", afirmou.
"Qual é a diferença nossa: nós investigamos. Me mostra onde é que está (o erro) que eu mando investigar. Eu não varro para debaixo do tapete."
Perguntada sobre a possibilidade de as denúncias causarem impacto em sua campanha, Dilma disse que lutará "com unhas e dentes para que o que não seja justo não ocorra".
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)