CANNES (Reuters) - O diretor do Festival de Cinema de Cannes, Thierry Fremaux, lamentou nesta segunda-feira a intensificação do foco, nos últimos anos, em questões políticas e sociais na indústria cinematográfica, o que, segundo ele, ocorreu às custas dos filmes em si.
"No passado, as pessoas só falavam sobre o cinema. Nós, como organizadores, tínhamos apenas uma ansiedade -- os filmes: as pessoas gostarão deles, as pessoas odiarão?", disse Fremaux em uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira.
Fremaux fez o comentário em resposta a pergunta sobre reportagem do jornal francês Le Figaro, na semana passada, que dizia que Cannes havia contratado uma equipe de gerenciamento de crise para lidar com as possíveis consequências de uma lista que poderia ser publicada de 10 personalidades da indústria cinematográfica acusadas de abuso sexual.
"Não se trata de polêmicas que realmente surjam do festival, isso é algo que queremos evitar", disse Fremaux.
Ele garantiu, no entanto, achar importante a exibição no festival do novo curta-metragem "Moi Aussi" ("Eu também") de Judith Godreche, atriz francesa que tem sido uma voz importante no movimento #MeToo no país. O movimento global #MeToo expôs homens acusados de assédio sexual em áreas como entretenimento, política e negócios.
Na semana passada, o festival anunciou que o curta-metragem de 17 minutos com o testemunho de cerca de 1.000 vítimas de abuso sexual seria exibido na cerimônia de abertura da competição "Un Certain Regard" ("Um Certo Olhar", em tradução livre) na noite de quarta-feira.
Fremaux enfatizou várias vezes que os filmes foram escolhidos por suas qualidades cinematográficas -- seja sobre a Ucrânia, Gaza ou o ex-presidente dos EUA, Donald Trump.
Desde o início, "Cannes refletiu a agitação do mundo porque é isso que os diretores fazem em seus filmes", disse.
Fremaux também lida com uma possível greve dos trabalhadores do festival que ameaça fechar tudo em Cannes, previsto para ocorrer de 14 a 25 de maio. Fremaux afirmou que Cannes discute diariamente as questões com representantes dos trabalhadores.
(Reportagem de Miranda Murray e Alicia Powell)