Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - O resultado da eleição presidencial mostra que a disputa em alguns Estados pode ser fundamental para o candidato do PSDB, Aécio Neves, limar a vantagem de 8 milhões de votos da presidente Dilma Rousseff (PT), ainda mais se o tucano conseguir o apoio pessoal de Marina Silva (PSB).
Já a presidente Dilma Rousseff, que teve um desempenho bem inferior ao de 2010, quando recebeu mais de 47 milhões de votos no primeiro turno, vai enfrentar cenários adversos nessas disputas estaduais e não trabalha com a hipótese de ter o apoio de Marina, que teve mais de 22 milhões de voto no domingo.
Um pouco antes da eleição, um ministro do governo disse à Reuters que Dilma queria ter uma vantagem de pelo menos 10 pontos percentuais no primeiro turno. Essa diferença ficou em 8,1 pontos percentuais.
O resultado mais surpreendente do domingo foi a imensa vantagem construída por Aécio em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, onde conquistou mais de 10,1 milhões de votos, superando em 4 milhões os obtidos pela petista. O desempenho do senador mineiro foi melhor até mesmo do que o do ex-governador do Estado José Serra, candidato presidencial do PSDB em 2010 e eleito senador no domingo.
Naquele ano, Serra conseguiu 40,6 por cento dos votos válidos em casa. Este ano, Aécio chegou a 44,2 por cento dos votos válidos em São Paulo.
Os estrategistas de Aécio acreditam que no segundo turno ele pode chegar a pelo menos 60 por cento dos votos válidos.
Essa será uma das apostas da campanha tucana, contra a qual dificilmente Dilma terá uma resposta. São Paulo é o Estado que concentra a maior rejeição à presidente e ao PT. Em 2010, a petista chegou a 37,3 por cento dos votos válidos no Estado. Desta vez, minguou para 25,8 por cento.
Para piorar, o governador Geraldo Alckmin se reelegeu no primeiro turno com folga e poderá mobilizar sua máquina eleitoral a favor de Aécio. "O Alckmin nos ajudou em tudo que precisávamos no primeiro turno, não temos do que reclamar", disse à Reuters um dos estrategistas da campanha de Aécio.
No começo da corrida eleitoral, uma das apostas dos petistas e do governo era de que Alckmin e o PSDB paulista não se empenhariam pela vitória do correligionário.
ÓRFÃOS DE MARINA
A ampliação da vantagem de Aécio em São Paulo pode ser óbvia, mas em outros lugares como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco, lugares onde Marina somou pouco mais de 6,3 milhões de votos, esses eleitores estão órfãos e podem migrar para qualquer um dos candidatos.
Na campanha petista, estima-se que pelo menos metade dos votos dados a Marina é de antipetistas, mas não há certeza de que todo esse eleitorado migrará automaticamente para Aécio. Se a candidata do PSB apoiar formalmente o tucano haveria mais força nesse movimento.
Há, no entanto, questões políticas locais que podem influenciar esses eleitores mais do que a posição de Marina.
Em Pernambuco, Dilma perdeu para Marina por pouco mais de 180 mil votos, mas a herança expressiva da candidata do PSB de 2,3 milhões de votos está em disputa agora.
A grande votação de Marina vincula-se certamente à comoção provocada pela morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que era o candidato à Presidência do PSB até 13 agosto, quando morreu num acidente aéreo em Santos (SP). Marina, que era candidata a vice, assumiu a campanha uma semana depois.
Nesse caso, os petistas acreditam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode virar a maioria desses votos para Dilma, mas há pelo menos um indicativo de que isso não será tão fácil: o PT não conseguiu eleger nenhum deputado no Estado.
No segundo maior colégio eleitoral, Minas Gerais, onde Aécio foi governador por oito anos e esperava sair vitorioso no primeiro turno, Dilma teve vantagem pequena de pouco mais de 400 mil votos. Os petistas consideraram essa vitória importante, porque teria demonstrado que o tucano não é tão querido como esperava em seu Estado.
Na avaliação de uma fonte do Palácio do Planalto, ouvida pela Reuters, essa vantagem de Dilma pode evaporar, ainda mais se Marina se alinhar ao PSDB.
Dilma tem a seu favor a eleição em primeiro turno de Fernando Pimentel (PT), ex-ministro do Desenvolvimento e amigo pessoal, que terá agora tempo e máquina eleitoral disponíveis para pedir votos para a petista.
No Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral, há 2,5 milhões de votos órfãos de Marina e tanto Aécio como Dilma podem herdar parte deles. O que pode definir a vantagem de cada é a capacidade da aliança com os concorrentes locais.
O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) é o favorito. Mas apesar de integrar formalmente a base de Dilma, parte do PMDB local trabalha desde o primeiro turno por Aécio, formando a aliança informal que ficou conhecida por Aezão.
Por conta dessa aliança informal, Dilma pode até mesmo ser apoiada pelo concorrente de Pezão no segundo turno, Marcelo Crivella, do PRB. Ex-ministro da Pesca no governo Dilma, Crivella está tentando fazer uma aliança com os candidatos derrotados do primeiro turno: Anthony Garotinho (PR) e Lindbergh Farias (PT), que também apoiaram Dilma no primeiro turno.
O PMDB, no entanto, pode ser decisivo para Dilma em outras duas disputas, no Ceará e no Rio Grande do Sul, onde haverá confronto direto com candidatos do PT.
O PMDB, aliás, referendou a aliança com Dilma em meio a uma profunda divisão, em que mais de 40 por cento dos convencionais do partido optaram por não apoiar seu projeto de reeleição. Esse fantasma volta com força agora.
No Ceará, Dilma teve uma enorme vantagem sobre Aécio, mas o PSDB é aliado formal de Eunício Oliveira (PMDB), que disputará o segundo turno com Camilo Santana (PT). Nesse embate de aliados no plano nacional, Dilma pode perder parte da vantagem, caso Eunício tenha que adotar postura de oposição para vencer o PT.
No Rio Grande do Sul, Dilma venceu o primeiro turno com uma pequena vantagem de pouco mais de 100 mil votos, mas a disputa entre Tarso Genro (PT) e Ivo Sartori (PMDB) pode provocar danos ao eleitorado da petista. PT e PMDB são adversários históricos no Estado, e Sartori tem apoiado Aécio.
Considerando a complexa disputa para Dilma nesses Estados decisivos, ela pode não manter a vantagem nem conseguir os votos necessários para se reeleger.
(Reportagem adicional de Luciana Otoni)