Crispian Balmer
VENEZA (Reuters) - O documentarista vencedor do Oscar Errol Morris estreou seu mais recente trabalho nesta quinta-feira, no Festival de Veneza, mostrando uma das políticas mais polêmicas do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: a separação de famílias na fronteira com o México.
“Separated” mostra como o governo Trump passou a silenciosamente separar crianças de seus pais, em um esforço para impedir que imigrantes entrassem ilegalmente nos Estados Unidos.
“Deus sabe que tenho opiniões fortes sobre muitas das políticas do governo Trump, mas a ideia de que de alguma forma alguém possa machucar crianças como uma questão de política parecia impensável”, afirmou Morris.
“O que eles imaginavam que estavam fazendo, ou como justificavam esse comportamento? Após uma série de entrevistas, ficou claro que havia uma ausência do pensar, que é talvez a parte mais assustadora”, acrescentou.
O governo Trump lançou sua política de “tolerância zero” em abril de 2018 como forma de desincentivar a tentativa de cruzamento da fronteira, incluindo por famílias. Sob a política, os pais eram acusados de crimes imigratórios e acabavam enviados para prisões, enquanto seus filhos eram colocados em abrigos.
Donald Trump, um republicano, encerrou a prática em junho de 2018, em meio a críticas nos EUA e no exterior.
O documentário, que é baseado em um livro do jornalista da NBC Jacob Soboroff, deixa claro que seguidos governos republicanos e democratas tiveram dificuldade para encontrar formas de lidar com a imigração massiva ocorrida na fronteira do sudoeste dos EUA.
Citando números do governo, o documentário afirma que pelo menos 4.227 crianças foram tiradas de seus pais durante o período de separação, e mais de mil ainda vivem separadas de sua família.
Embora tenha abolido a prática em 2018, Trump prometeu intensificar sua repressão à imigração caso vença a eleição de novembro, inclusive com a possível retomada da política de separação.
Morris venceu o Oscar de Melhor Documentário em 2003, com “Sob a Névoa da Guerra”.
(Reportagem de Crispian Balmer)