Por Jake Spring
BRASÍLIA (Reuters) - Os humanos degradaram ou destruíram cerca de dois terços de floresta original tropical do mundo, segundo novos dados, aumentando o alarme de que uma proteção natural essencial contra as mudanças climáticas está desaparecendo rapidamente.
A perda da floresta também é um grande contribuinte das emissões para o aquecimento do clima, com a densa vegetação da floresta tropical representando o maior reservatório de carbono.
A extração madeireira e a conversão de terras, principalmente para a agricultura, eliminaram 34% das florestas tropicais primitivas do mundo e degradaram outros 30%, deixando-as mais vulneráveis a incêndios e destruição futura, de acordo com uma análise da organização sem fins lucrativos Rainforest Foundation Norway, examinada exclusivamente pela Reuters.
Mais da metade da destruição desde 2002 ocorreu na Amazônia, na América do Sul, e em florestais tropicais adjacentes.
Conforme mais floresta é destruída, há mais potencial para mudanças climáticas, o que torna mais difícil para as florestas remanescentes sobreviverem, disse o autor do relatório, Anders Krogh, um pesquisador de florestas tropicais.
"É um ciclo terrível", afirmou Krogh. O total eliminado apenas entre 2002 e 2019 foi maior do que a área da França, segundo ele.
A taxa de destruição em 2019 correspondeu aproximadamente ao nível anual de devastação dos últimos 20 anos, com um campo de futebol de floresta desaparecendo a cada 6 segundos, de acordo com outro relatório recente do World Resources Institute.
A Amazônia brasileira está sob intensa pressão nas últimas décadas, com um boom agrícola levando fazendeiros e especuladores de terras a incendiar lotes para soja, carne bovina e outras safras. Essa tendência tem piorado desde 2019, quando o presidente Jair Bolsonaro assumiu o cargo e começou a enfraquecer a fiscalização ambiental.
Mas a Amazônia também representa a melhor esperança de preservar o que resta de floresta tropical. A Amazônia e suas vizinhas --Orinoco e a floresta andina-- respondem por 73,5% das florestas tropicais ainda intactas, segundo Krogh.
O novo relatório "reforça que o Brasil precisa cuidar da floresta", disse Ane Alencar, geógrafa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia que não participou do trabalho. "O Brasil tem a maior porção de floresta tropical do mundo e também é quem está perdendo mais."
As ilhas do sudeste asiático, em sua maioria pertencentes à Indonésia, ocupam coletivamente o segundo lugar em termos de destruição florestal desde 2002, com muitas dessas florestas desmatadas para plantações de óleo de palma.
A África Central está em terceiro lugar, com a maior parte da destruição centrada em torno da bacia do rio Congo, devido à agricultura tradicional e comercial, além da extração de madeira.
As florestas definidas no relatório como degradadas foram parcialmente destruídas ou destruídas e substituídas por floresta secundária, afirmou a Rainforest Foundation Norway.
A definição desse estudo para floresta intacta pode ser excessivamente rígida, advertiu Tasso Azevedo, coordenador da iniciativa brasileira de mapeamento de desmatamento MapBiomas. A análise conta apenas regiões intocadas de pelo menos 500 quilômetros quadrados como intactas, deixando de fora áreas menores que podem aumentar a abrangência de floresta virgem do mundo, disse ele.
Krogh explicou que essa definição foi escolhida porque trechos menores correm o risco do "efeito de borda", em que as árvores morrem mais rápido e a biodiversidade é mais difícil de ser mantida perto da borda da floresta. Uma floresta com 500 quilômetros quadrados pode sustentar totalmente seu ecossistema, disse ele.