NAIRÓBI (Thomson Reuters Foundation) - Cerca de 11 milhões de crianças no leste e no sul da África estão ameaçadas pela fome, por doenças e pela falta de água como resultado da manifestação mais forte do El Niño em décadas, alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, na sigla em inglês) nesta terça-feira.
A escassez de água e alimentos, causada pelas secas e inundações, está provocando desnutrição, o que aumenta a vulnerabilidade das crianças a doenças fatais como malária, diarreia, cólera e dengue, disse o órgão.
"As consequências podem afetar gerações, a menos que as comunidades afetadas recebam apoio", declarou o Unicef em comunicado, referindo-se ao baixo desenvolvimento, que atinge crianças que contam com poucas proteínas, vitaminas e minerais na alimentação.
Crianças com baixo desenvolvimento têm limitações cognitivas e de saúde, desempenho escolar inferior e, quando adultos, ganham menos do que ex-crianças que tiveram nutrição adequada, segundo mostram estudos.
O El Niño, causado pelo aquecimento no oceano Pacífico, provocou secas em várias partes da África, incluindo o Maláui e o Zimbábue.
O país mais afetado é a Etiópia, que tem a segunda maior população do continente e está sofrendo sua seca mais severa em 30 anos.
Mais de oito milhões de etíopes precisam de ajuda alimentícia, e este número pode aumentar para 15 milhões até o começo de 2016, declarou a Organização das Nações Unidas (ONU).
Cerca de 350.000 crianças etíopes sofrem de desnutrição aguda, disse o Unicef, o que significa que é provável que morram sem nutrição terapêutica.
Na Somália, enchentes súbitas destruíram milhares de casas improvisadas e lavouras, e a expectativa de novas chuvas deve aumentar o número de pessoas que precisam de socorro urgente, que já chegam a 3,2 milhões.
A previsão é de que o El Niño continue a ganhar força até o começo do ano que vem, causando mais alagamentos e secas e alimentando os tufões e ciclones do Pacífico.
Fenômenos como o El Niño não são decorrentes da mudança climática, mas os cientistas acreditam que eles estão se tornando mais intensos por causa da alteração do clima.
(Reportagem de Katy Migiro)