Por Michael Holden
LONDRES (Reuters) - O rei Ricardo 3º, o monarca inglês medieval cujos restos foram encontrados sob um parque de estacionamento, há três anos, será enterrado novamente na próxima semana, quase 530 anos depois de ter sido morto em uma batalha e sepultado em um túmulo humilde.
Ricardo 3º foi o último rei inglês a morrer em combate, na Batalha de Bosworth Field, no centro da Inglaterra, em 1485, e seus restos foram encontrados em 2012.
O corpo será sepultado na catedral de Leicester na próxima semana em um caixão de carvalho projetado por um descendente cujo DNA ajudou a identificar os restos mortais. Ele também vai ganhar o reconhecimento régio que, segundo dizem seus defensores, foi negado por Henrique Tudor, mais tarde, Henrique VII.
"A questão toda era se, caso os restos de Ricardo fossem encontrados, ele receberia o enterro digno e honrado lhe foi negado em 1485", disse Phil Stone, presidente da Sociedade Ricardo 3º, formada há 90 anos e que agora tem milhares de adeptos em todo o mundo.
Shakespeare retratou Ricardo como um tirano corcunda, um monstro sanguinário que abriu caminho para o trono com assassinatos, após a morte de seu irmão, Eduardo 4º, e caiu combatendo para manter a coroa, gritando "Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!".
Entre suas supostas vítimas estavam o ex-rei Henrique 6º, outro de seus irmãos, e os próprios sobrinhos – os "príncipes na Torre", um deles de 12 anos de idade, Eduardo 5º, o rei legítimo.
Mas a Sociedade Ricardo 3º e outros argumentam que ele era um muito criticado, foi um governante benevolente e era inocente nos crimes que Shakespeare lançou à sua porta.
Um dos que desacreditaram a versão de Shakespeare foi o roteirista Philippa Langley, que passou sete anos procurando o monarca, cujo corpo nu foi retirado do campo de batalha em Bosworth e levado para um convento em Leicester, onde fora enterrado.
Enquanto grandes sepulcros abrigam os restos mortais da maioria dos monarcas ingleses na Abadia de Westminster e no Castelo de Windsor, Henrique 7º pagou apenas 10 libras por um memorial para Ricardo. Pensava-se que o corpo tivesse sido jogado em um rio próximo, em uma data posterior, mas o palpite de Langley de que os restos estavam em um estacionamento municipal, em um ponto onde estava pintada uma letra R, se mostrou correto.
"No início do projeto, nunca pensei que iria ser bem-sucedido, as chances eram 1000-1 contra", disse Richard Buckley, que chefiou a equipe de arqueólogos da Universidade de Leicester, à Reuters.
Testes de DNA feitos depois indicaram 99,999 por cento de certeza de que o esqueleto com uma espinha curvada era de fato o de Ricardo. Os testes mostraram que ele tinha sofrido 11 feridas, incluindo nove no crânio e um golpe potencialmente fatal na pelve. As feridas eram consistentes com as dos relatos sobre a forma como morreu, desmontado do cavalo e rendo perdido o elmo na batalha.
(Reportagem adicional de Alex Fraser)