Por David Alexander
WASHINGTON (Reuters) - A ex-candidata presidencial democrata Hillary Clinton diz em seu novo livro que Donald Trump a deixou horrorizada por persegui-la pelo palco em um debate de campanha e se pergunta se deveria ter-lhe dito "para trás, seu nojento".
Em trechos de áudio do livro "What Happened" divulgados pelo canal MSNBC nesta quarta-feira, Hillary descreveu sua campanha de 2016 como "alegre, instrutiva, revoltante e simplesmente desconcertante" e admitiu que falhou com milhões de apoiadores perdendo a eleição de novembro para Trump.
Nas passagens, Hillary descreveu um debate de 9 de outubro em St. Louis no qual Trump a seguiu de perto pelo palco, espreitando por trás da rival enquanto ela respondia perguntas de uma plateia ao vivo na televisão. O debate ocorreu dois dias depois do surgimento de uma gravação de áudio na qual se ouve Trump se vangloriando de apalpar mulheres.
"Isso não é certo, pensei", diz Hillary. "Era o segundo debate presidencial e Donald Trump estava espreitando atrás de mim", disse.
"Estávamos em um palco pequeno e, onde quer que eu fosse, ele me seguia de perto, me encarando, fazendo caretas. Foi incrivelmente constrangedor. Ele estava literalmente bufando no meu pescoço. Fiquei horrorizada", contou Hillary.
"Foi um daqueles momentos em que você gostaria de poder apertar o botão de pausa e perguntar a todos assistindo: 'Bem, o que vocês fariam?' Ficariam calmos, continuariam sorrindo e seguiriam em frente como se ele não estivesse invadindo seu espaço repetidamente? Ou vocês se virariam, o encarariam e diriam em alto e bom som "para trás, seu nojento. Afaste-se de mim. Sei que você adora intimidar mulheres, mas você não consegue me intimidar".
Hillary diz ter escolhido a primeira opção.
"Mantive a compostura, graças a uma vida toda lidando com homens difíceis que tentavam me abalar", conta.
Mas a ex-senadora questiona se não deveria ter optado pela segunda opção.
"Certamente teria ficado melhor na TV", diz. "Talvez eu tenha insistido demais na lição de ficar calma, morder a língua, cravar as unhas em um punho fechado, sorrir o tempo todo, determinada a apresentar um rosto digno ao mundo".
Hillary disse que escrever o livro, que deve ser lançado nas próximas semanas, "não foi fácil".
"Todos os dias que passei como candidata a presidente eu sabia que milhões de pessoas estavam contando comigo, e não conseguia suportar a ideia de decepcioná-las. Mas decepcionei", reconhece. "Não dei conta do recado".