SÃO PAULO (Reuters) - "Poltergeist – O Fenômeno", clássico de suspense e terror dos anos 1980, está de volta, numa espécie de remake, dirigido por Gil Kenan ("A Casa Monstro").
Não que seja um filme realmente ruim – apenas não diz a que veio, uma vez que o primeiro, em sua época, fazia bem mais sentido. Era 1982, quando Ronald Reagan começava seu mandato como presidente, e o neoliberalismo ganhava força. Nesse mesmo momento, a vida nos subúrbios cercados eletrodomésticos dava a (falsa) ideia de conforto. Steven Spielberg, no roteiro, e Todd Hooper, na direção, mostraram que nem a própria casa era um local seguro.
Os espíritos malignos, os poltergeists do título, eram a materialização dos maiores medos da classe média, tão pré-moldados e estandardizados como a infinidade de casinhas que compõem o seu bairro. Em 2015, o cenário é outro: não se existe mais essa ideia de segurança – o 11 de Setembro, por exemplo, mostrou aos norte-americanos que ninguém está seguro. O remake, cujo roteiro é assinado pelo dramaturgo David Lindsay-Abaire, parece perder um pouco do que teria a dizer. Ainda assim, há algo que funciona no filme.
Ao olhar o elenco, algum desavisado pode pensar estar diante de uma produção à la Sundance, afinal os protagonistas são interpretados por atores mais conhecidos do cinema independente. Sam Rockwell é o pai, Eric Bowen, que acaba de ser demitido. A mãe (Rosemarie DeWitt) já não é dona-de-casa, mas uma escritora-e-dona-de-casa. São mudanças sutis e inúteis que em nada acrescentam.
Por conta da crise, são obrigados a se mudar para o subúrbio para desespero da filha adolescente, Kendra (Saxon Sharbino), alegria da caçula, Madison (Kennedi Clements), e a costumeira indiferença do filho do meio, Griffin (Kyle Catlett). As frustrações deles serão, enfim, compensadas por uma infinidade de bugigangas eletroeletrônicas. Mas o filme não perde muito tempo em dizer quem é quem, e logo crianças estão sendo arrastadas pelas pernas ou engolidas pelo armário.
Depois que a possessão da casa começa, "Poltergeist" segue mais ou menos o original. Madison desaparece, e seus pais conseguem fazer um breve contato com ela pelo aparelho de televisão, com estática. Mais tarde, vemos a mãe e o irmão no gabinete de uma acadêmica especializada em paranormalidade – vale ressaltar que Mamãe Bowen parece tranquila demais para alguém cuja filha está desaparecida. Aliás, um dos pais é racional a ponto de dizer: "Não vamos chamar a polícia! Isso irá atrair a mídia". Como se vê, uma família centrada.
Família centrada, aliás, é quase uma constante em filmes cujo nome de Spielberg está envolvido. Ele pode até criticar outros valores, mas o familiar deve sobreviver intacto, ao final. Dra. Brooke Powell (Jane Adams, outro ícone do cinema independente) é o alívio cômico e a mediação entre o problema e o sujeito que pode realmente solucioná-lo: Carrigan Burke (Jared Harris), paranormal responsável por um reality show cujo bordão é "Essa casa está limpa!"
Esse, no entanto, é apenas um tema contemporâneo ao qual o filme acena, mas nem chega perto. O que o diretor quer mesmo é dar sustos. Nesse sentido, o uso do 3D é bem competente, aprofundando a sensação de claustrofobia.
O que Kenan e Lindsay-Abaire parecem não notar, na verdade, e isso teria muito a acrescentar, é que nessas mais de três décadas, nossa relação com eletrodomésticos e, especialmente, eletroeletrônicos, mudou muito. Esses aparelhos se tornaram íntimos, a ponto de os levarmos para todos os lugares, inclusive para a cama. E quando alguém diz algo como "Veja, Madison está na TV" não significada algo necessariamente aterrorizante – ela pode, apenas, ser participante de um algum Big Brother.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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