SÃO PAULO (Reuters) - Existe um suspense gótico enterrado em algum lugar, mas que só sai da cova nos minutos finais (dos 146 totais) de “A Cura”, uma distopia confusa sobre um executivo de finanças que vai a um spa nos Alpes suíços em busca de seu chefe.
Dane DeHaan, cujas feições lembram um Leonado DiCaprio jovem, é o protagonista da trama dirigida por Gore Verbinski (“Piratas do Caribe: No Fim do Mundo” e “O Chamado”).
“A Cura” passa boa parte do tempo construindo seu universo, o spa para milionários idosos que vão ao lugar --um castelo de vários séculos-- em busca de descanso e para revigorar a saúde.
Lockhart (DeHaan) vai até lá para encontrar seu chefe, Pembroke (Harry Groener). Quando o visitante sofre um acidente de carro, quebrando uma perna, fica impossibilitado de voltar para Nova York. Como já que está lá mesmo, começa um tratamento.
Aos poucos, como é de se esperar, tudo se revela diferente das aparências. A começar pela única paciente jovem, Hannah (Mia Goth), que espera curar-se não se sabe de que mal para que o pai venha buscá-la. Ela, como todos, está sob os cuidados de Volmer (Jason Isaacs), dono e diretor do local, responsável pelos tratamentos que envolvem muita água purificada.
Quando, finalmente, com a perna engessada, Lockhart encontra Pembroke, este se recusa a sair do local: está bem ali, longe dos problemas do mundo financeiro. Ao mesmo tempo, seguindo a profecia de Hannah, estranhamente, o rapaz jamais consegue sair dali.
Há também uma lenda local, segundo a qual, dois séculos atrás, o dono do castelo queria casar-se com sua irmã mais nova, para manter a pureza do sangue da família. No entanto, a construção foi invadida pelos moradores locais na noite do casamento e a moça, queimada viva.
O cenário do sanatório é o que há de melhor aqui --cujo desenho de produção é assinado por Eve Stewart: uma mistura de castelo medieval, com passagens e câmaras subterrâneas, corredores e quartos sinistros, além de salas médicas que mais parecem quartos de tortura.
Essa extravagância de cenário nunca encontra uma ressonância narrativa à sua altura, com sua trama pífia, repleta de pistas e finais falsos até realmente terminar de forma frustrante.
Nas mãos de, digamos, Guillermo del Toro, o visual seria mais caprichado e teríamos, ao menos, um filme bonito de se ver. Ou, se dirigido pelas mãos de algum mestre do terror B dos anos 1970, “A Cura” abraçaria de vez aquilo que parece querer homenagear sem nunca conseguir.
Apesar das mais de duas horas e excesso de zelo no didatismo inicial, “A Cura” nunca se resolve bem em termos de narrativa --talvez especialmente por sua longa duração-- , deixando furos aqui e ali, e uma resolução trash-gótica que beira o risível, apesar do esforço de Isaacs para dar alguma dignidade ao destino e motivos de seu personagem.
Há orçamento e seriedade demais para o filme se assumir como trash de vez (e o resultado seria bem melhor), e também timidez demais para abraçar o gótico. O resultado final é um filme rocambolesco, com bons momentos, mas que não sustentam sua plausibilidade interna.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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