SÃO PAULO (Reuters) - "Operações Especiais" é um policial de ação protagonizado por Cleo Pires que mais parece um piloto de série de televisão – e isso é um elogio. Dirigido por Tomás Portella ("Isolados"), a partir de um roteiro dele e de Martina Rupp, o longa acompanha a iniciação de Francis (Cleo), jovem que entrou para a polícia por acaso, querendo ser apenas burocrata e é obrigada a se tornar agente de campo.
Quando conhecemos a protagonista, ela é estudante de turismo que trabalha num hotel e pensa em prestar um concurso qualquer para ter estabilidade financeira. Logo consegue entrar para a polícia, e ela, que nunca pegou numa arma, fica feliz em passar os dias sentada atrás de uma mesa digitando e carimbando. Até que uma onda de crimes numa cidade do interior torna necessária a escalação de uma equipe especial, e Francis acaba sendo incluída.
Uma das qualidades do filme é contar com uma personagem bem-construída – e Cleo Pires está em seu melhor papel no cinema.
Francis entra para um time só de homens, em que todos a irão zombar e menosprezar. Além disso, não existe uma fórmula milagrosa que a transforme numa policial exemplar do dia para a noite. Ela comete vários erros, não sabe usar uma arma (e vai levar um tempo para aprender) e terá dificuldade para ganhar a confiança de todos, inclusive do delegado Paulo Froés (Marcos Caruso), que coordena a equipe.
A cidade de São Judas do Livramento tornou-se palco de uma batalha entre bandidos – que saíram da capital rumo ao interior –, e duas crianças são as primeiras vítimas. Logo de cara os policiais compram brigas com antigos bandidos e ex-colegas corruptos, além dos políticos do lugar, acostumados com esquemas pouco lícitos.
Da equipe, destacam-se Décio (Fabricio Boliveira) e Roni (Thiago Martins). Entre os inimigos, estão o prefeito local (Augusto Madeira) e um ex-policial (Antonio Tabet). Obviamente, a construção dos personagens – excetuando a protagonista – é maniqueísta. Os policiais aqui são totalmente incorruptíveis. A questão que o diretor quer levantar é: estamos preparados para uma polícia incorruptível?
Teoricamente, a ideia é boa. Também, teoricamente, num momento como esse que o Brasil passa, a ausência de corrupção na polícia já seria alguma vantagem.
A questão, no entanto, é que ao sair com uma pergunta (tentadora) como essa, o filme deixa de lado algo mais profundo: a corrupção estrutural inerente ao sistema. Como seria esse mundo em que o aparato repressivo do Estado parece estar desvinculado das estruturas que o sustentam?
"Operações Especiais" acerta bastante quando se propõe a ser um filme policial – pode render uma série de televisão bastante boa se um dia vier a ser. Mas quando tenta enveredar pelo campo da ideologia, mira nos alvos mais fáceis sem tocar num contexto mais amplo.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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