SÃO PAULO (Reuters) - Pensem numa mulher livre – e logo se pode lembrar de Ingrid Bergman (1915-1982), a atriz sueca que ainda muito jovem deixou para trás o próprio país, tornando-se estrela em Hollywood para, anos depois, fazer o caminho de volta à Europa, para trabalhar com o cineasta italiano Roberto Rossellini. Com quem viveria, aliás, um romance que foi um dos maiores escândalos do final dos anos 1940, já que Ingrid era casada e deixara o marido, Petter Lindstrom, e a filha, Pia, nos EUA.
Apesar de referir-se a tudo isso, nada mais distante de uma crônica de futilidades do que o documentário "Eu sou Ingrid Bergman", em que o crítico e cineasta Stig Bjorkman utiliza generosamente material precioso e inédito: cartas, diários e também filmes 16 mm feitos pela atriz, que registrava habitualmente os bastidores das produções de que participava, assim como do cotidiano da própria família, especialmente dos quatro filhos.
Ao situar, seguindo suas próprias palavras, essa mulher apaixonada, capaz de mudar radicalmente de vida ao sabor dos próprios desejos, o documentário torna mais autêntico seu pensamento, mais verdadeira sua expressão, permitindo distanciar-se dos julgamentos preconcebidos que contaminaram com um viés moralista sua imagem há mais de 50 anos atrás.
Também são particularmente vívidos os depoimentos de seus quatro filhos, a primogênita Pia, e os italianos Roberto, Isabella e Ingrid. Cada um deles é capaz de expressar o fascínio que exerceu sobre eles essa mulher muitas vezes distante, por conta dos compromissos da carreira ou da separação de seus respectivos pais, e por cuja presença cada um deles ansiava sempre mais.
Pois, como reconhecem todos, ela era carismática, inteligente, engraçada, por mais que tantas vezes não obedecesse ao figurino de uma mãe convencional, ou se dobrasse às expectativas infantis de permanecer sempre ao seu alcance.
Ao mesmo tempo em que revela episódios menos conhecidos da vida da atriz, como sua ligação com o fotógrafo húngaro Robert Capa, o documentário oferece farto material para reflexão sobre o singular talento de uma atriz sete vezes indicada ao Oscar, sendo três vezes vencedora: "À meia-luz" (44), "Anastasia, a Princesa Esquecida" (56) e "Assassinato no Expresso Oriente" (74).
Da mesma forma, fornecem revelações saborosas sobre ela atrizes como Liv Ullman, que estrelou com ela Sonata de Outono (78), de Ingmar Bergman, e Sigourney Weaver, sua substituta na peça "The Constant Wife", produzida na Broadway por John Gielgud em 1975.
Sem pretender esgotar seu tema, o documentário proporciona um mergulho envolvente na figura de uma deusa do cinema que nunca quis ser mito, mas que procurou estar sempre onde seu coração queria chegar.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb OLBRENT Reuters Brazil Online Report Entertainment News 20151223T172416+0000