SÃO PAULO (Reuters) - Palma de Ouro em Cannes 2015, o drama "Dheepan - O Refúgio", do veterano diretor francês Jacques Audiard, debruça-se de maneira contundente sobre o tema da imigração e também da violência urbana que, neste momento, abala particularmente a Europa.
Dheepan é o nome do protagonista, um imigrante do Sri Lanka interpretado pelo escritor Anthonythasan Jesuthasan. Como seu personagem, o ator tem larga vivência anterior como ex-guerrilheiro da guerra civil que destroça seu país.
No filme, ao fugir dessa situação, ele forma uma falsa família de conveniência com a jovem Yalini (Kalieaswari Srinovasan) e uma menina órfã de 9 anos, Illayaal (Claudine Vinasithamby), condição que facilita seu acolhimento como refugiados na França.
Uma vez na Europa, Dheepan acha alojamento e emprego como porteiro de um conjunto habitacional de periferia, dominado pelos traficantes. Tudo o que ele e a família precisam fazer para ter paz é ignorar o que fazem os criminosos à luz do dia – sem que se veja intervenção alguma da polícia. Mas, finalmente, a espiral de violência não os poupa. "Dheepan..." é um filme sobre engajamento, escolhas, autodefesa e busca de amor.
Nada ingênuo, o filme de Audiard (diretor de "Ferrugem e Osso", "O Profeta") é um instrumento de reflexão sobre o contemporâneo que não abre mão de sua natureza, ou seja, é cinema, não manual didático. O que só aumenta sua força, ainda que se possa ressentir de uma melhor estruturação no momento de virada do personagem e na conclusão de sua história.
De todo modo, o tema da formação de uma família a partir de uma escolha de sobrevivência, deixando para um segundo momento o esforço para preenchimento dos papéis de pai e mãe, é sugestivo do mundo conturbado de hoje e uma oferta de generosidade de pensamento.
"Dheepan" humaniza os refugiados de maneira sincera e este é seu melhor trunfo.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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