SÃO PAULO (Reuters) - Quando foi escolhido pelo próprio diretor Sam Raimi para refilmar o clássico “A Morte do Demônio” (de 1981), o uruguaio Fede Alvarez mostrou que dominava o gênero, apesar de apenas ter realizado um curta, “Ataque de Pânico” (2009), sobre alienígenas em Montevidéu. Violento, perverso e absolutamente tenso, o reboot de 2013 foi um produto que combinou a rebeldia do original com o um pensamento jovial de Alvarez, tornando-o pop e atual.
Pelas qualidades que apresentou, não era apenas mais um filme de terror competente, mas sim o trabalho de um diretor que prometia inovações para o gênero. Daí, não é surpresa que tenha se tornado um protegido de Raimi em sua incursão no cinema americano e que o seu novo “O Homem das Trevas” tenha demonstrado ser um sucesso em sua estreia no país, desbancando até mesmo “Esquadrão Suicida” e “Star Trek – Sem Fronteiras”.
Dirigido e roteirizado por Alvarez, com produção assinada por Raimi, o filme é um suspense ágil e bem elaborado, que tenta jogar descaradamente com os valores do espectador. Na história, Rocky (Jane Levy) e Money (Daniel Zovatto) são um casal de ladrões pé-de-chinelo que cooptam o amigo Alex (Dylan Minnette) para suas trapaças. Ele é filho de um segurança particular residencial e, sem o conhecimento do pai, surrupia chaves e alarmes para os roubos do trio, quando não há ninguém em casa.
Com exceção de Money, o roteiro leva quem assiste a ter um mínimo de consideração com os outros dois protagonistas. Rocky é vítima de uma família desestruturada e precisa de dinheiro para fugir com sua irmã mais nova das ameaças da mãe alcoólatra. Já Alex é um apaixonado, que pretende se unir a Rocky nesse futuro hipoteticamente idílico, adepto duplamente do autoengano: da ideia de que ela casará com ele e de que crimes sem violência não são bem crimes.
A próxima vítima (Stephen Lang, de “Avatar”) desses desajustados parece uma presa facílima: um idoso rico (mas sem conta em banco), que vive em uma parte afastada do bairro, sem vizinhos e, ainda por cima cego. Mesmo com todas as informações corretas, o trio é surpreendido tão logo entra na casa e o roubo passa a ser uma prova de sobrevivência, que Alvarez elabora com uma série de surpresas para o espectador. Para quem torcer torna-se uma dúvida real depois da segunda metade do filme.
Mesmo com a insensibilidade dos tempos atuais a histórias de revirar o estômago, ainda mais para aficionados por terror e suspense, “O Homem nas Trevas” trabalha com uma trama realmente violenta. Longe da possessão diabólica em uma cabana e da agressividade de alienígenas na capital uruguaia, Alvarez trabalha a psicopatia bem humana e o que as pessoas podem fazer (e suportar) quando expostas a situações-limite. Um filme de dar medo, pelas possibilidades do terror ao nosso lado.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
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