SÃO PAULO (Reuters) - Mais de 15 anos atrás, Susan Sarandon levava uma Natalie Portman adolescente para a Los Angeles que sua personagem tanto sonhava, embora Beverly Hills estivesse longe dos desejos da filha, evidenciando a conturbada relação maternal que conduzia a comédia dramática “Em Qualquer Outro Lugar” (1999). Agora, ela é uma viúva que cresceu no Brooklin e está se mudando de Nova Jersey para a mesma L.A., com o intuito de ficar próxima de sua filha, uma roteirista em seus 30 anos (Rose Byrne), em “A Intrometida”.
Além do tom cômico-dramático e de uma ótima performance da veterana atriz, ganhadora do Oscar por “Os Últimos Passos de um Homem” (1995), o novo longa de Lorene Scafaria guarda similaridades com o outro estrelado por Sarandon na maneira como estas duas mães, igualmente protetoras e mandonas, geram identificação no público. Mérito da diretora ao usar suas experiências com sua mãe Gail após a morte de seu pai em um filme autobiográfico universal.
Enquanto a filha Lory (Rose Byrne) está tentando escrever o piloto de uma série, Marnie Minervini (Susan Sarandon) enche a caixa de mensagens de voz do celular da filha perguntando como ela está e descrevendo sua nova rotina em Los Angeles, em monólogos que funcionam como narração na abertura e em vários outros momentos.
Suas ligações são tão frequentes quanto a música da Beyoncé em seu rádio no carro – a diretora chegou a escrever uma carta à cantora para poder usar na produção “I Was Here”, já que a sua mãe realmente ouvia direto a canção e queria até pôr um trecho dela na lápide do marido.
Marnie quer parecer que está bem, mas é possível perceber que a viúva tenta superar o luto ainda mal resolvido se intrometendo na vida da filha e na de conhecidos, como o vendedor da loja da Apple (Jerrod Carmichael) ou a amiga de Lory (Cecily Strong). Abusando de atos generosos para se tornar importante para estes novos amigos e ser lembrada, Marnie evita, de todo modo, a solidão, fugindo do silêncio que a faz lembrar do marido. Ao mesmo tempo, esquiva-se da aproximação de possíveis pretendentes, como o ex-policial Zippie (J.K. Simmons) ou o companheiro de festas Mark (Michael McKean).
Lorene, que já escreveu “Nick & Norah: Uma Noite de Amor e Música” (2008) e também dirigiu “Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo” (2012), é responsável por este roteiro que carece de mais desenvolvimento na personagem da filha, que entra e sai da história sem que o público a conheça de fato, e peca por abandonar alguns assuntos e tramas abordados.
Mas nem isto impede o resultado sensível obtido por esta típica comédia de situação com tom agridoce, graças ao talento de Susan. O bom elenco também ajuda para tornar essa mulher tão crível em momentos de emoção sutil - como na cena do formulário, ou de riso frouxo, a figuração por engano ou o fascínio e as dúvidas dela com as tecnologias, que soam tão familiares. O maior mérito da jovem cineasta, no entanto, é não tornar o filme uma mera terapia sua na tela.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb