SÃO PAULO (Reuters) - Finalmente chega aos cinemas brasileiros o filme de terror de baixo orçamento do jovem diretor norte-americano David Robert Mitchell, que tem colecionado elogios superlativos por onde estreia. O sucesso faz sentido. "Corrente do Mal" (2014), com seu argumento central de gosto um tanto duvidoso, é um filme tenso, que foge de convencionalismos técnicos e garante novos ares ao gênero.
De forma inteligente, Mitchell se arvora em múltiplas referências para construir a narrativa. Do primeiro "Sexta-Feira 13", traz a relação entre sexualidade, juventude e o mal, na lógica quase moralista que dominou o gênero nos EUA na década de 1980.
Outra relação é com elementos do cinema japonês (em que cabe o excelente "Ringu", de 1998, como exemplo), e a concepção do sobrenatural enigmático, imprevisível e constante. Segue até mesmo a linha indivisível de sonho e pesadelo, recorrente em David Lynch.
Mas o resultado final não é um mosaico e sim um filme autoral, que segue o mesmo estilo do drama juvenil "The Myth of the American Sleepover" (2010), début de Mitchell, ainda inédito no Brasil.
Na fantasia armada pelo diretor e roteirista, o sofrimento da jovem Jay (Maika Monroe) começa logo depois de ir para a cama (aqui, na verdade, o banco traseiro do carro) com o novo namorado (Jake Weary). Após o sexo, o rapaz prende a moça para provar que lhe transmitiu uma espécie de maldição: uma criatura, que pode assumir qualquer aparência humana e que ninguém além dela verá, irá persegui-la dia e noite até matá-la.
Essa é a tal corrente do mal em que, para sair dela, é preciso fazer sexo com outra pessoa. Embora o diretor já tenha dito que não gosta da interpretação, é explícita a relação com uma doença sexualmente transmissível. Um argumento correto, mas simplista.
Embora a premissa soe uma grande bobagem, Mitchell surpreende com sua composição. O mal, que não se sabe de onde vem ou sua real motivação, apenas caminha na direção de sua vítima. Jay cruza a cidade, pode até atravessar continentes, mas sabe que, em algum momento, na forma de uma criança ou idoso, a criatura irá alcançá-la.
Nesse momento, o diretor abusa das tomadas amplas e planos longos para proporcionar ao espectador uma visão completa do cenário para identificar por onde o mal está chegando. Nada de sustos, gritos, muito sangue. Só a vaga ideia de que algo está vindo, devagar, inabalável e fatal.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
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