SÃO PAULO (Reuters) - O diretor e humorista Seth MacFarlane não é um autor para todos. Com seu ácido humor referencial, debocha de instituições, celebridades e estilo de vida norte-americano (e do resto do mundo), fazendo piadas até mesmo sobre racismo, drogas e equidade de gênero, para arrepio de grupos de defesa de direitos.
Essa é a sua marca, evidente nos seriados "Uma Família da Pesada" e "American Dad!" (ambos da Fox), e de filmes como o recente "Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola" (2014) e de "Ted" (2012), que ganha esta sequência, mal separando o humor politicamente incorreto do francamente ofensivo. É preciso, enfim, captar, entender e gostar desse estilo de comédia para aproveitar "Ted 2".
Aqui, o ursinho de pelúcia Ted (voz de MacFarlane) se casou com a barraqueira Tami-Lynn (Jessica Barth), com quem vive às turras, por causa da situação financeira do casal e a facilidade com que ambos perdem o controle. Em meio aos palavrões e brigas, o ursinho quer ter um filho para pacificar o ambiente.
O problema é que o governo norte-americano não reconhece Ted como ser humano, mas como propriedade do amigo inseparável John (Mark Wahlberg). Por isso, perde seu emprego e vê o seu casamento ser anulado. Para ajudá-lo na batalha judicial que terá pela frente, além de John, Ted contará com Samantha (Amanda Seyfried), uma advogada iniciante que, como se diria em linguagem corrente, gosta de ficar tão chapadona como os protagonistas.
O trio também tem o apoio do todo-poderoso advogado Patrick Meighan (Morgan Freeman), especializado em direitos civis, em uma clara brincadeira de MacFarlane com o ator e seus personagens elevados (ele já foi até Deus em "Todo-Poderoso"). Ele faz o mesmo com Liam Neeson, em participação de luxo, que usa a persona do matador Bryan Mills (de "Busca Implacável") para falar de um cereal.
Embora desenvolva as situações de comédias de forma natural para a narrativa principal (uma competência inegável), MacFarlane, no entanto, acaba perdendo um pouco o rumo ao incorporar à história subtemas, como a volta do obsessivo Donny (Giovanni Ribisi). Envolvendo, agora, até o CEO da gigante de brinquedos Hasbro, o vilão quer mais uma vez sequestrar Ted, mas este desvio leva o filme a perder ritmo.
Para seus detratores, o humorista, roteirista, ator e diretor responde com quase meio bilhão de dólares em bilheteria pelo mundo com o primeiro "Ted", o que possibilitou a sequência. Responde também com sua capacidade ímpar de rir de problemas sociais, para apontar os reais desafios na defesa de direitos nos Estados Unidos pós-11 de setembro. E o faz, acima de tudo, rindo de si mesmo.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
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